O
resgate de lembranças da infância são artifícios usados por diversos
escritores. Ora como inspiração para um obra ficcional, ora como um gancho para
iniciar um relato biográfico, quer seja do próprio autor como de um possível
biografado. Na obra “O Vento pela Fechadura”, de Stephen King (283 págs, 2013),
editado pela Objetiva, o escritor norte-americano enveredou por uma terceira
alternativa: a das lembranças de infância do próprio protagonista.
King
teve essa possibilidade em função de que o livro em questão trata-se de uma
retomada de uma série considerada pelo próprio o grande épico de sua carreira,
“A Torre Negra”. Formada até então por sete livros (1), o autor se sentiu
motivado talvez por uma grande quantidade de especulações na mídia
especializada sobre a possibilidade de adaptação de mais esta obra de sua lavra
para uma série ou um filme (2).
Dessa
forma, ele volta novamente seu olhar e sua criatividade para narrar mais uma
aventura do pistoleiro Roland Deschain e seu Ka-Tet, como ele chama o pitoresco
grupo que o acompanha pelo caminho do Feixe de Luz em busca da supracitada
Torre. Tal grupo é formado por Susannah, Eddie, Jake e Oi, uma espécie de
mascote que, se um dia a obra for realmente retratada nas telas, poderemos
desvendar se é mais parecido com um furão ou com um cachorro. Por enquanto
parece, no imaginário de um leitor como eu, um misto das duas coisas. É assim
num mundo do realismo fantástico como o de Gilead.
A obra e a série
Como
alguns de vocês já puderam perceber, esta é uma estória que tem como público
alvo não apenas os admiradores das obras de terror já escritas por King, mas
também um grupo de leitores arregimentados ultimamente, mais para
infanto-juvenil, com novelas repletas de vampiros, lobisomens, etc. Ok, não me
parece ser para todos, mas quem gosta de adrenalina – e de um bom velho Oeste –
encontrará as referências necessárias para acompanhar o enredo do início ao
fim.
No
que diz respeito exatamente à saga descrita em “O Vento...”, tratam-se na
verdade de um típico três em um. Num momento em que o Ka-Tet se refugia de uma
borrasca, o protagonista, Deschain, aproveita para contar uma estória passada
em sua infância. Em meio a esta história, ele mesmo, mais jovem, conta uma
outra estória. Nas três o vento é como um personagem sempre presente, dando
significado para sua continuidade através dos tempos, metáfora para boas
lembranças – tal qual quando sentimos uma brisa soprar e ela nos traz memórias
esquecidas - mas também para o fato de que tudo passa, e a vida continua.
Segundo King esta obra se encaixa na série perfeitamente: “Para os antigos
leitores, este livro deve ser colocado na prateleira entre Mago e Vidro e Lobos de Calla...
o que o torna, creio eu, A Torre Negra
4,5.”
Stephen King
Devo
confessar ainda um desejo secreto: se algum dia a estória da “Torre Negra” for
realmente adaptada para o cinema – e ela é tão longa que somente uma adaptação,
a não ser que os produtores aceitem algo do tipo a série “Guerra nas Estrelas”
– que ela seja colocada na mão de Quentin Tarantino. Tenho certeza, ainda mais
depois de “Django” (2012) que ele é a pessoa certa para a empreitada. E eu
ficaria muito grato pela junção de dois artistas do meu agrado.
Por
último, posso repetir, ipsis literis,
o que o próprio King afirmou – este na qualidade de escritor - no prefácio que,
eu, enquanto leitor “(...) adorei descobrir que meus velhos amigos tinham um
pouco mais a dizer. Foi um presentão encontrá-los novamente, anos depois de
pensar que suas histórias estavam contadas”.
(1)
Série
“A Torre Negra”: Vol. 1 = O Pistoleiro / Vol. 2 = A Escolha dos Três / Vol. 3 =
As Terras Devastadas / Vol. 4 = Mago e Vidro / Vol. 5 = Lobos de Calla / Vol. 6
= Canção de Susannah / Vol. 7 = A Torre Negra.
(2)
Seria
interessante relembrar que além de um escritor consagrado ele teve diversas
obras adaptadas por ele próprio para as telas, sendo as mais antigas e talvez
conhecidas “O Iluminado” e “Carrie, a Estranha”. Para mais detalhes ver http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-37782/filmografia/