Sempre
é um desafio fazer uma crítica sobre um livro que completa uma trilogia. O motivo
é bem simples: como fazê-lo se, ao menos, lemos os dois anteriores e já dissertamos
sobre eles? Como fazê-lo sem antecipar expectativas geradas nos fãs da odisseia?
“A
Última Estrela” completa a trilogia iniciada com “A 5ª Onda”, cujo segundo
volume foi “O Mar Infinito”, por nós resenhado há pouco tempo. A princípio “A Última
Estrela” padece do que considerei os mesmos erros de “O Mar Infinito”: a opção
do autor por diversos narradores, o que acaba por afetar a dinâmica da
narrativa. Porém, diferentemente do volume anterior, ao invés de cada narrador
voltar ao ponto inicial já exposto por outro personagem, esse continua
justamente do trecho/cena no qual houve a parada quando da “passagem de bastão”.
Ou seja, houve um avanço, o que faz com que a estória evolua mais rapidamente.
Fonte: http://saidaminhalente.com/a-ultima-estrela-rick-yancey/ |
O
livro de Rick Yansey, publicado pela Editora Fundamento, de São Paulo, em 2016,
tenta fechar a trajetória de um grupo de adolescentes e crianças que luta contra
uma raça alienígena que busca o extermínio da humanidade para o que aparentemente
seria uma ocupação do planeta Terra quando este estivesse em melhores condições
do que as deixadas por nós. Nesse sentido, apesar do toque belicista, tem-se
uma mensagem clara de como estamos ultrapassando alguns limites na conservação
de nosso lar.
Ter
crianças e adolescentes como protagonistas – ao ponto de um menino de 6 anos matar
um dos vilões como se fosse um aprendiz no faroeste (lembro-me nesse momento
dos meninos-soldados que existem em alguns rincões da África ou aqueles que são
cooptados por traficantes nesse nosso Brasil) – deixe um quê de incredulidade
no leitor. Mas como se trata de ficção-científica e estamos falando mais uma
daquelas obras que explora futuros distópicos, existe uma certa margem para a imaginação.
Outro
aspecto que me preocupei em observar é se o sentimento de desapontamento com os
finais de trilogia – ainda mais aquelas na linha citada acima – se repetiria
com a “A Última Estrela”. Confesso que o final foi distinto do que esperava.
Confesso ainda que foi um final que não necessariamente me agradou. Mas isso
seria o suficiente para dizer que foi um desapontamento? A visão pode ser
distinta de um leitor com parâmetros diferentes dos meus. Mas a impressão que
fiquei é que dificilmente a trilogia terá continuidade na telona, já passado algum
tempo da adaptação do primeiro volume. Pelo menos como termina seria mais objeto
de críticas dos fãs do que de elogios.
Na
verdade, nosso lado romântico deixa-nos levar pela expectativa de que no final
sempre tudo dará certo e o rumo das coisas no embate entre o Bem e o Mal levará
necessariamente a que todos os protagonistas tenham seus desejos atendidos. A
vida não é esta linha reta de uma trajetória conhecida. Ela tem seus desvãos,
curvas e volteios com os quais temos que lidar e saber superar. Esta é outra
mensagem dada pela obra. Por mais difícil que seja o que interessa é caminhar
para frente, construir um futuro exequível com o que temos à mão. Muitas vezes
isso significa tomar decisões difíceis – e desagradáveis. Mas sempre com o
intuito de alcançar um bem maior mais à frente.
Por
último, acho que os leitores desta trilogia devem ficar atentos a um aspecto
interessante, mérito do autor e cujo desafio é grande quando se trata de
estórias com múltiplos protagonistas: dar o equilíbrio de importância entre os
personagens. Avaliando com calma a trajetória traçada, percebi que aquele
personagem que imaginei como central para a trama ao final se mostrou como
coadjuvante, de acordo com o avanço do texto. E aquele que havia se apresentado
como coadjuvante em seu início passa a ser central para a boa evolução da obra,
se tornando o eixo das soluções ao final. Isso se deve ao processo contínuo do
autor de avaliar e reavaliar seu próprio texto e seus “filhos”, identificando
quem melhor lhe dará retorno.
Enfim,
se eu pudesse dar um recado para aqueles que vêm acompanhando e lendo a
trilogia é: desapeguem de seus ídolos. Eles podem ser menos importantes do que
você imagina ao final. A vida apresenta inúmeras oportunidades. E muitas vezes
aquele amigo que você tinha relegado a um segundo plano pode ser o que tem a solução
para os seus problemas e apoio de que você precisa.