Quando
Robin Williams, interpretando o professor John Keating no filme Sociedade dos Poetas Mortos (1),
eternizou o bordão Carpe Diem – expressão
em latim que, a grosso modo, significa “aproveite o dia” – estava enaltecendo,
na verdade, o que deveria ser a frase que deveria estar pregada na porta de
cada consultório de psicologia pelo mundo afora. Aproveitar cada momento de
nossa vida, como se fosse o último e o mais importante, por mais singelo que
seja, é a receita – com suas variações – que deveríamos seguir para fugir da
louca ansiedade que nos assola.
Em
Criaturas de um Dia – Ed. Agir – Rio de
Janeiro – 176 páginas – Irvin Yalom homenageia justamente àqueles que souberam
como traduzir isso para suas próprias vidas depois de sofrerem pesados traumas.
O que nos serve de lição: pois se grandes traumas podem ser assim tratados, o
que dizer dos nossos pequenos traumas do dia a dia?
Desde
que levantamos pela manhã, até nos deitarmos ao final do dia, pequenos dramas
encenamos: Meu Deus, onde coloquei minhas chaves? / Como é que eu pude esquecer
o aniversário de fulano? / Essa porcaria de restaurante não tem um prato
grelhado? – e etc, etc, etc. Pequenos aborrecimentos que vão minando, pouco a
pouco, nossa capacidade de olhar para o copo meio cheio.
Voltando
ao livro e suas lições, observemos qual é o cardápio que nos é apresentado,
tendo em comum o fato de que Yalom, enquanto psicanalista, teria como limite
máximo 1 ou 2 sessões para “curá-los”:
Capítulo 1 – A Cura
Tortuosa
– um velho escritor com bloqueio criativo que almeja encontrar um par para
dialogar “em alto nível” no fim de sua vida;
Capítulo 2 –
Sobre Ser Real –
um executivo recheado de uma vida de sucessos, se autodeprecia, se sentindo
sufocado por insegurança, recriminações e culpa;
Capítulo 3 –
Arabesque
– uma ex-bailarina em busca do frescor de uma juventude perdida, a reboque de
um amor do passado;
Capítulo 4 –
Obrigado, Molly
– a assistente de Yalom, Molly, após o falecimento dela, ainda o deslumbra com
o efeito que teve sobre um dos seus pacientes, do tipo “acumulador”;
Capítulo 5 – Não
Me Aprisione
– um senhor de idade, ex-executivo, que não consegue se adaptar à rotina de um
asilo de idosos, busca uma saída para melhor curtir a vida;
Capítulo 6 –
Mostre Alguma Classe a seus Filhos – uma paciente havia mostrado sua face
mais lisonjeira na interpretação do terapeuta Yalom. Porém, isso não era tudo
que ela tinha, descobriu posteriormente à morte dela;
Capítulo 7 –
Desista da Esperança de um Passado Melhor – toda uma vida dedicada a um
fim. Será que teria sido válido? Era mesmo esse o caminho? Inquietudes de uma
paciente em dúvida sobre o rumo da sua vida;
Capítulo 8 –
Adquira sua Própria Doença Fatal: Homenagem à Ellie – como uma
doente terminal de câncer encara o próprio fim, dando uma lição no terapeuta;
Capítulo 9 –
Três Choros
– uma desilusão com uma amizade que não pode ser recuperada;
Capítulo 10 –
Criaturas de um Dia
– um homem, duas mulheres, quantos caminhos isso pode proporcionar? E como
Marco Aurélio, o imperador romano, ajudou a resolver essa equação.
Para
cada um desses casos Yalom adotou uma estratégia. O aprendizado de que esses
casos enaltecem, na sua trajetória particular, o fato de que devemos ressaltar
os bons momentos que temos em nossa vida é o fio condutor. Certo, errado,
direita, esquerda, verdadeiro, falso, esses dilemas sempre estarão aí para
serem enfrentados, mas quer seja com uma doença fatal, quer seja com uma
desilusão amorosa, quer seja com um passado ou um futuro em perspectiva, o que
interessa é valorizar o presente nosso de cada dia. Carpe Diem.
(1)
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-5280/#