sexta-feira, 21 de abril de 2017

El Fútbol a Sol y Sombra

Esta semana o mundo do futebol foi tomado por um debate em torno da atitude de um jogador. Rodrigo Caio, zagueiro do São Paulo, campeão olímpico ano passado, num clássico contra o Corinthians pela semifinal do campeonato paulista, assumiu ter pisado inadvertidamente no goleiro de sua própria equipe, fazendo com que o árbitro voltasse atrás em sua decisão de advertir o centroavante adversário, Jô, o qual ele, juiz da partida, havia imaginado ter sido o autor da suposta agressão. Não fosse pelo simples fato de que o São Paulo perdia o jogo por 2 x 0, tal seria acrescido no sentido de que o cartão amarelo uma vez recebido teria como punição imediata a suspensão do jogador corintiano da segunda partida decisiva.

Este ato de honestidade foi objeto de inúmeras avaliações, umas contra outras a favor, estando às primeiras baseadas na percepção de que a extrema competitividade vista nos campos profissionais não permitiria esta ação em detrimento da derrota de sua própria equipe. O jogador, ao não estar prejudicando o adversário, mesmo que de maneira desonesta, seria assim entendido como estando automaticamente atuando contrariamente aos interesses da sua própria equipe. Esta visão tem também o aspecto de colocar sob os holofotes o entendimento de que o futebol seria um mundo à parte àquele em que vivemos, onde as regras de comportamento entre os iguais seriam mais flexíveis em favor do objetivo imediato.

Lendo o livro do autor uruguaio Eduardo Galeano, “El Fútbol a Sol y Sombra”, numa nova edição publicada antes da Copa de 2014 pela Siglo Veintiuno Editores, de Buenos Aires (312 páginas), podemos perceber como os valores estão invertidos. Galeano é um autor de matiz esquerdista, que ficou mais conhecido pelo célebre “As Veias Abertas da América Latina”, que tem sido livro de cabeceira de inúmeros políticos que se auto identificam nesta linha. Os pensamentos de Galeano ficam mais evidentes nesse sentido por suas notas irônicas ao iniciar seções do livro “El Fútbol...” contextualizando a chegada de cada um dos Mundiais anunciando que àquela altura estava prevista a queda de Fidel Castro em Cuba, com praticamente a mesma frase: “Como era costumbre, fuentes bien informadas de Miami anunciaban la inminente caída de Fidel Castro, que iba a desplomarse en cuestión de horas”. Além disso, sua revolta quanto aos maus condutos dos dirigentes da FIFA ficam evidentes a todo momento, politicagem esta que hoje em dia é objeto de investigação por autoridades de diversos países.

O livro em si segue uma dinâmica clara. Tem em suas primeiras 60 páginas o que seriam as definições do autor para os componentes do jogo – o futebol em si, o jogador, o goleiro, o ídolo, o torcedor, e por aí vai... Passado esse período introdutório ele passa a dissertar sobre suas impressões a respeito de cada um dos Mundiais realizados, e os seus períodos intermédios, assim como dos jogadores que se destacaram a cada época, com espaço para rememorar jogadas, equipes e partidas fantásticas. Levando-se em conta que ele nasceu em 1940 e os primeiros dois torneios ocorreram em 1930 e 1934, há aí um trabalho de pesquisa inserido. Mas a partir de 1950 tais apontamentos já podem contar com seu testemunho vivo. Nesta nova edição, infelizmente, não temos a análise pós Copa de 2014. Como o autor veio a falecer em 2015, fica para a imaginação do leitor qual seria a interpretação deste para a festa ocorrida no Brasil. Porém ele não deixou de apontar os protestos que vinham ocorrendo em território nacional por conta dos gastos incorridos com a realização do campeonato – “Y eso en un Brasil donde están estallando los volcones de la indignación popular ante el derroche de las construcciones faraónicas en contraste con los fondos destinados a la salud pública y la enseñanza gratuita” (pág. 272).

A parte o homem político, presente no peso de cada palavra colocada, Galeano faz com maestria um paralelo entre o esporte em si e o seu impacto sobre os hábitos da sociedade de cada época. Demonstra uma capacidade de pesquisa peculiar, pois cita fatos futebolísticos que transcendem fronteiras, apontando para histórias ocorridas na Argentina, no Uruguai, no Brasil, na Europa, etc. Como comentarista demonstra ser mais apaixonado pelo esporte em si e por toda sua teatralidade, como uma representatividade de uma cultura muito própria.

Um livro saboroso, o qual tive o prazer de ler no seu idioma original, o que me proporcionou o sentimento de proximidade com os pensamentos do autor uruguaio. Meu único senão desportivo seria o da pouca importância que ele dá para a seleção brasileira de 1982, preferindo exaltar naquele torneio em particular o meio de campo do selecionado francês formado por Platini, Tigana, Genghini e Giresse (pág. 185). Isso para mim é um pecado mortal, o que me colocou em dúvida sobre sua percepção correta dos fatos. Ou estaria eu sendo patriótico demais sobre este aspecto?

Para encerrar, fico a me perguntar o que Galeano diria do ocorrido com Rodrigo Caio. Exaltaria ele, pelo seu lado político, a honestidade demonstrada? Ou colocaria em dúvida a necessidade de tal ato, pelo prazer da pseudo-cultura do futebol em se buscar curvas onde deveríamos ter retas – dada a sinonímia entre honestidade e retidão? Fintar as regras da convivência e do jogo faria parte do brilho e da essência do futebol? Talvez uma rápida visão premonitória sobre este aspecto seria o texto “Vale Todo” (págs. 203-206), não por acaso no intermédio entre os Mundiais da Mão de Deus de Maradona (1986) e do tri da Alemanha num pênalti duvidoso (1990). Ao constatar o vício de moral para o qual ele atribui ao desenvolvimento do futebol dito profissional termina com a seguinte citação:

El escritor Albert Camus, que había sido arquero en Argelia, no se refería al fútbol profesional cuando decía:

-          Todo lo que sé de moral se lo debo al fútbol.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

PROTEJA SUA EMOÇÃO

O diálogo está morrendo. Muitos só sabem falar de si mesmos quando estão diante de um psiquiatra ou psicólogo. Pais e filhos não cruzam suas histórias, raramente trocam experiências de vida. A família moderna está se tornando um grupo de estranhos, cada um vivendo ilhado no próprio mundo. Cinquenta por cento dos pais jamais conversaram com seus filhos sobre suas lágrimas, medos, angústias, pesadelos (pág. 8).

Na Sexta-Feira Santa celebramos o renascimento Daquele que se sacrificou por todos nós. Essa é a verdadeira expressão desta data. O renascimento tem que ser um querer para cada um, ao amanhecer de cada dia.

A obra “Proteja sua Emoção”, de Augusto Cury faz parte da coleção do famoso psicoterapeuta que leva o nome dele. São pocket books que apresentam de maneira expedita sua filosofia, ferramenta com a qual ela trabalha com seus leitores e pacientes. De um certo modo ela se justifica para auxiliar no renascimento das pessoas que tem acesso ao seu texto.

Este volume, produzido pela Gold Editora – 64 páginas – e publicado em 2014 indica principalmente que nós temos que ser atores de nossas próprias vidas, controladores das nossas emoções. Este palco que se oferece para ser trilhado a cada dia tem seus desvãos, mas é repleto também de oportunidades que se soubermos enxergar poderão ser aproveitadas.

Se você não administrar sua emoção, será um barco sem leme, dirigido por elogios, aceitações, críticas, frustrações (pág. 23).

Augusto Cury faz parte daquela leva de autores classificados na seção de Auto Ajuda nas livrarias. Área normalmente olhada com desdém pelos literatos – chamada literatura fácil, que pega as massas justamente pela isca da emoção – traz como maior força sua didática simples. Entende-se essa característica pelo fato de que, em momentos de fragilidade, o que o indivíduo mais anseia são ideias de fácil assimilação, pois ele quer encontrar uma saída imediata para aquele problema que o aflige.

Acontece que para os problemas da alma e da mente não existe fuga fácil ou rápida. Tudo faz parte de um processo de auto-conhecimento, em que visualizamos nossas limitações e nossas fortalezas, sabendo equilibrá-las, com o passar do tempo, a cada uma das situações vividas. Poucos são os que têm paciência de encará-las de frente.

Recentemente assisti um filme baseado na obra de Cury – “O Vendedor de Sonhos” (2016), com direção de Jayme Monjardim, tendo Dan Stulbach no elenco. Me chamou atenção que pelo menos 4 pessoas saíram no meio da sessão, sendo duas delas senhoras de idade que praguejavam quanto ao que estava sendo exposto na película. A estória gira em torno de um psiquiatra que queria se matar e se vê demovido da ideia, para passar a enxergar a vida de outro modo, por um mendigo que se presta a conversar com ele, mendigo este que tem uma vida pregressa repleta de ensinamentos.

O que fez com que as pessoas saíssem do cinema? A qualidade do filme. Certamente era uma produção simples, mas não pior que muitas outras que vemos por aí. Acredito mais pelo fato dela expor, sem filtros, mensagens que incomodam, fatos que alguns preferem esconder sobre si mesmos.

Uma pessoa madura não dá as costas para a dor, mas a enfrenta com dignidade (pág. 46).

A literatura de Cury serve a este propósito – abrir caminhos para quem está disposto a trilhá-los. É de excelência? É única? Está no Santo Graal da literatura? Nada disso. Mas no dia de hoje celebramos Aquele que justamente pelas suas simples palavras nos fez ver que a vida é muito mais do que o material, é bela diante das vicissitudes, que é possível renascer e se tornar mais forte tendo a confiança Nele. Não precisamos de nada rebuscado. Precisamos de mais simplicidade em nossas vidas.


Para quem o Mestre dos mestres declarou sua dor? Para três alunos que em seguida o decepcionariam ao máximo: Pedro, Tiago e João. Pedro o negaria dramaticamente, e Tiago e João o abandonariam no momento em que Jesus mais precisaria da presença deles. Foi para essas pessoas que o frustrariam muitíssimo que o professor teve coragem de se abrir e mais coragem ainda de ensinar as mais importantes lições para protegerem sua emoção (págs. 58-59).