A
guerra é a situação extrema do ser humano. Nela, mais do que no nosso dia a
dia, está latente a possibilidade de você morrer no segundo seguinte. O que
esta noção provoca no ser humano? Que tipo de reação cada um de nós teria se
vivesse tal situação? De que maneira podemos evitar chegar a tal ponto?
Charles
Pellegrino, com o seu “O Último Trem de Hiroshima: os sobreviventes olham para
trás” (Ed. Leya – São Paulo – 2010 – 432 págs) induz ao leitor tais reflexões.
O autor, deste modo, responde a essas perguntas propondo-as no contexto de no
que de pior a humanidade já fez a si própria – o lançamento das duas bombas
atômicas ao final da Segunda Guerra Mundial sobre as cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki. Como se não bastassem os campos de concentração nazistas
e todo o horror cometido no cotidiano de um enfrentamento bélico, optou-se pela
“solução final” de modo a impor uma derrota ao adversário sem contestações.
Filosoficamente
se poderia discutir se ceifar uma centena de milhar de vidas humanas não seria
melhor do que dar continuidade a uma guerra de invasão – conforme previsto
pelas Forças Armadas norte-americanas junto ao Japão naquele mesmo ano de 1945
– que poderia prolongar o conflito e trazer um número maior de baixas. Mas na
verdade a pergunta crucial não é esta. A guerra em si carece de razoabilidade
em existir. Mas o ser humano parece não entender este conceito cristalino, dado
que em batalha estivemos desde o raiar da humanidade.
Pellegrino,
desta forma, deixa com o seu trabalho o testemunho necessário desta
irracionalidade que é a guerra, trazendo como argumentos a seu favor (ao nosso
favor!!!) o impacto gerado com as imagens e histórias coletadas em quase 30
anos de pesquisa.
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Charles Pellegrino |
Autor dos livros que serviram a James Cameron como inspiração
para Titanic e de pesquisas que
impulsionaram o conceito em torno da série Jurassic
Park, Pellegrino está em condições de levantar mais uma bandeira
utilizando-se de sua influência perante os meios de comunicação de modo a que
compreendamos de uma vez por todas que não existe outro caminho para a
sobrevivência em paz no planeta Terra que não seja a cooperação entre todos,
vizinhos, povos, cidades ou países. Para tanto ele navegou desde o pior que o
ser humano pode representar, até chegar ao melhor que o homem pode fazer pelo
seu próximo.
Orgulho, preconceito
e cegueira – o pior do ser humano
Uma
das primeiras imagens de como o homem pode ter sua ética e boa vontade
deteriorada em favor do benefício próprio foi a identificação de que
localidades próximas às duas cidades atingidas no início de agosto de 1945
impediam a migração dos sobreviventes para suas comunidades. “Na zona rural,
durante o espaço de apenas algumas horas, os sobreviventes tinham sido
convertidos em fugitivos, como as administrações locais faziam questão de
deixar claro em anúncios feitos com megafones. Apelando para argumentações ou
ocasionalmente apontando armas, as autoridades mandavam os andarilhos feridos
de volta às piras e aos lugares onde a chuva negra caíra. Embora ainda não
soubessem que tais venenos existiam, encaminhavam as pessoas à radiotividade”
(pág. 60).
Essa
é uma reação entre vizinhos, co-irmãos de uma mesma sociedade. Mas a humanidade
infelizmente não se vê também como uma só. E quão mais distante se encontra do
impacto gerado por suas ações, maior a probabilidade de atitudes selvagens para
com o seu semelhante. “Uma solução que se ouvia com mais frequência era a de
acabar com o Japão o mais rápido possível usando armas nucleares, e depois a
Rússia, com a mesma força. A segunda bomba atômica ainda não tinha incendiado
Nagasaki e diversos veteranos da primeira missão atômica já viam seus amigos
lançarem o olhar para além do Japão, na direção da Rússia, e usar pela primeira
vez a expressão ‘Nuke them’” (pág. 104) para expressar o desejo por um ataque atômico contra um inimigo.
O
horror de tais medidas somente podem ser entendidas como a cegueira do ser
humano em relação às consequências de seus próprios atos. A falta de
compreensão do que ocorre no seu entorno, o orgulho ferido, acabam com a visão
de que uma atitude deve ser tomada para evitar o pior. “Mesmo depois de o
presidente norte-americano [Truman] revelar o segredo ao mundo, algumas horas
mais tarde – O mundo verá que a primeira
bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima, uma base militar -, o ministro
da Guerra [japonês, Anami] se recusava a aceitar” (pág. 88). Ao contrário,
todos correm a favor do estímulo ao estabelecimento do inferno na Terra como se
a única solução fosse destruir o outro (ou ter a capacidade de). Ou de que
outra forma se entenderia a Guerra Fria e a corrida armamentista? Afinal,
“(...) quando os norte-americanos começaram [com o desenvolvimento da bomba
atômica], ninguém sabia que o problema poderia realmente ser solucionado.
‘Agora’, Stalin disse a Beria [Chefe da KGB], ‘o mundo sabe que isso pode ser
feito. É a parte mais difícil do problema. Muito, muito mais importante de
saber como pode ser feito, é saber
que pode ser feito’” (pág. 100). Aqui
vale aquela velha máxima: o pior cego é aquele que não quer ver. Talvez a única
maneira de se fazer com que os olhos sejam abertos seria presenciando o horror
gerado.
Horror
Quando o doutor
Nishina levou um punhado de caninos e molares enegrecidos para perto do seu
medidor Geiger, os inconfundíveis cliques lhe reveleram exatamente o que
acontecera.
“Restos humanos
geralmente não emitem radiação”, o físico disse a Arisue.
“Então o que
é?”, perguntou o general. “Esses cliques aí mostram tudo?”
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Ministro da Guerra japonês
Korechika Anami |
“É isso mesmo”,
disse o doutor Nishina. “Só esses cliques e acabou. Temos que fazer o ministro
da Guerra Anami entender: se os norte-americanos tiverem muitas dessas armas,
pode acreditar em minha palavra, general – não há defesa contra esse tipo de
poder” (pág. 99).
Já
vimos acima que a simples constatação de que o horror atômico estava próximo
não foi o suficiente para um retrocesso no conflito imediatamente após ao
lançamento da primeira bomba. Mesmo com técnicos já tendo identificado o que
tinha ocorrido, o alto escalão militar japonês ainda não acreditava (ou não
queria acreditar) na gravidade da questão que estavam enfrentando. Porém, aos
poucos relatos – e fatos concretos – trouxeram à tona o que alguns não queriam
ver. “Depois do pika (o clarão) e do don (a explosão), a grama no lado do
vale (...), à sombra da montanha, permaneceu verde e praticamente inalterada.
(...) Mas em pouco tempo seu casulo passaria por uma estranha chuva de óleo
amarelo, e o córrego não teria águas claras por muito tempo” (pág. 175).
O
impacto em si sobre a natureza e a devastação local, com o desaparecimento da
maior parte das estruturas da cidade, não era nada comparado com os efeitos da
bomba sobre os seres humanos. “Matéria cerebral vaporizada e sangue tentavam
escapar pelas órbitas do crânio de uma mulher, como se fossem jatos de fumaça
preta, mas o aumento súbito de pressão foi tão grande que o crânio explodiu por
dentro” (pág. 185). Ou ainda havia os chamados homens-formiga, que caminhavam
desolados, sobreviventes sem a noção do que havia ocorrido, andando ao esmo, em
linhas uns atrás dos outros. Ou as pessoas-jacaré, que acorriam aos pequenos
córregos e rios, na busca por saciar a sede gerada com perda de material humano
gerada pela bomba. “As pessoas-jacaré não gritavam. Suas bocas não podiam
articular sons, mas o ruído era pior que gritos. Emitiam um constante murmúrio
– como o de cigarras numa noite de verão. Um homem, cambaleando sobre os cotos
queimados em que se transformaram suas pernas, carregava um bebê morto de
cabeça para baixo” (pág. 199). Se tais cenas não gerassem arrependimento, não
saberíamos jamais o que poderia fazê-lo.
Arrependimento
Arrepender-se.
Primeiro ato de uma possível redenção. Mesmo que alguns cegos, como dito acima,
somente enxergassem a busca pelo poder supremo, ou pela destruição imediata do
inimigo, seres humanos haviam lançado aquelas bombas sobre outros seres
humanos. E em alguns casos sem a exata noção do que estavam fazendo. “Russell
Gakensbach, no assento do navegador do Necessary
Evil, investigava o dano e pensava o mesmo que Tibbets [piloto do Enola Gay, avião que lançou a bomba
sobre Hiroshima] – há menos deles [japoneses] agora -, mas o copiloto de
Tibbets [capitão Robert Lewis] tinha um pensamento muito diferente: ‘Olhando
para baixo, a milhares de pés sobre Hiroshima, tudo o que eu podia pensar era:
‘Meu Deus, o que fizemos?’, ele contaria, mais tarde” (págs. 86-87). A bordo do
terceiro avião B-29 daquela missão fatídica de 06 de Agosto, o Great Artiste, o piloto Charles Sweeney,
ao saber que provavelmente teriam que fazer aquilo de novo, “saiu da base sem
dizer mais nada. Ele pegou um jipe emprestado e o guiou para longe da própria
ala de bombardeio, a do 509º, em direção ao capitão Downey, do 313º. O capelão
que havida dado a benção às três tripulações de Hiroshima (...) era luterano.
Sweeney era católico. Ele precisava encontrar um padre” (pág. 94).
O
mais impressionante é que, voltando mais um pouco no tempo, talvez nada disso –
as bombas, digo - fosse necessário. Pellegrino aponta o fato de Hitler ter
escapado com vida de um atentado em Julho de 1944. Aproveita inclusive este
fato para explicar a teoria sobre o “casulo” gerado a partir de uma mínima
proteção próxima ao epicentro de uma explosão – nesse caso específico uma grossa
perna de mesa serviu de anteparo para detonação, e acabaria salvando a vida do
dirigente alemão -, tese esta importante para compreender como alguns dos
sobreviventes escaparam às bombas atômicas. “Não fosse pelo casulo antichoque
de Hitler, von Stulpnagel [o conspirador responsável pelo atentado] teria
pedido, de seu posto avançado na França, um armistício imediato às forças
aliadas em 20 de Julho de 1944 ou numa data próxima. O plano de
Stulpnagel-Rommel pretendia colocar Ludwig Beck e Carl Goerdeler no poder como
presidente e chanceler – com a condição de que a Alemanha se rendesse até a
última semana de julho de 1944, em vez de 7 de maio de 1945. Se tivesse
acontecido assim, os aliados não teriam se distraído do front do Pacífico pela batalha do Bulge em dezembro de 1944;
tampouco de Dresden em fevereiro de 1945, ou de Berlim devido ao avanço russo
em abril de 1945. Em vez disso, Okinawa não caíra com os fuzileiros navais e as
Filipinas não foram liberadas até junho de 1945. Se um pedaço de madeira de carvalho
não tivesse interferido em 20 de Julho de 1944, esses dois eventos-chave teriam
ocorrido pelo menos seis meses antes – até janeiro de 1945, provavelmente em
momento anterior a novembro de 1944” (pág. 374).
As
forças armadas norte-americanas já vinham se preparando desde maio de 1945 para
uma invasão ao Japão. Eram mais de 500 mil homens de prontidão para tal ato,
com uma previsão de baixas caso fosse necessário em torno de 400 mil
combatentes. “Todos esses eventos teriam ocorrido de seis a oito meses antes,
não fosse pelo casulo antichoque de Hitler. A esquadra americana deveria ter
invadido o território japonês em maio de 1945, possivelmente até março. Se isso
tivesse acontecido, existiria uma probabilidade de mais de 50% de que a guerra
terminasse até agosto. Se a invasão ocorresse em março, então o calendário de
MacArthur encerraria a guerra quando a primeira bomba atômica foi testada na
base de Trinity, em 16 de Julho de 1945. Hiroshima e Nagasaki nunca teriam
acontecido” (pág. 375). E isso realmente importa – a linha tênue entre destino
ou fatalidade? Como colocamos no início, qual é a verdadeira lição a ser
aprendida?
O melhor do ser
humano
As
pequenas tragédias que vivemos no dia a dia, atualmente, nesse mundo de grande
pressão por resultados imediatos, por ser bem sucedido, se transformam em
gigantescas tempestades emocionais. As pessoas se tornam dependentes de
questões supérfluas, à beira do colapso e da depressão. Mas estas somente
ganham sua verdadeira dimensão quando confrontadas com as grandes e verdadeiras
tragédias. Michie Maruta, uma garota do subúrbio de Urakami, principal local
atingido pela bomba de Nagasaki, é o exemplo real de tal conceito. Observando
os efeitos sobre a população atingida – vômitos dos próprios órgãos internos, pele
se desfazendo, pilhas de cadáveres em chamas – ela mal podia acreditar que
apenas uma semana antes tinha ficado horrorizada com um corte feito num dedo
por uma folha de papel (pág. 252). A superficialidade da vida era assim, posta
em cheque. Mas se uma experiência reversa mostrasse outro lado? Um padre
católico, de nome Simcho, foi preso em 1942 por tropas do Eixo no Japão. Foi
deportado para Auschwitz. Lá, se apresentou como culpado de roubo no lugar de
outro detento. Tsutomu Yamaguchi, um dos chamados “duplo sobreviventes” e maior
defensor da paz após às bombas atômicas, colocou da seguinte forma: “O padre
Simcho tomou uma decisão notável (...). O homem acusado tinha uma família do
lado de fora, em algum lugar além dos muros da prisão. Simcho não tinha família.
Então ele confessou um roubo que não cometera para que uns filhos não fossem
privados de um pai” (pág. 306).
Porém
a mesma superficialidade acima apontada é muito mais perversa, por compor
aquele grupo de sentimentos que levam à ambição desmedida, ao preconceito, ao
orgulho exagerado dos pequenos feitos, que por sua vez levam ao embate entre as
pessoas, que no mais alto grau, devidos aos interesses envolvidos, geram as
guerras. Tais sentimentos são muito mais facilmente cooptáveis pelos seres humanos,
infelizmente. Atitudes como a do padre Simcho, de altruísmo extremo, são
extremamente raras. Mas como reverter esse ciclo vicioso? Como transformá-lo
num círculo virtuoso? A resposta a partir da experiência das bombas atômicas
possui dois nomes: Nyokodo e Omoiyari.
Para
entendermos Nyokodo temos que entender o Dr. Paul (Takashi) Nagai e Masahiro
Sasaki. Nagai era paciente de câncer terminal em seu próprio hospital na época
do bombardeio de Nagasaki. Após receber uma dose quase letal de radiação, seu câncer
entrou em remissão temporária, e, apesar de ainda gravemente afetado, viveu
tempo suficiente para se tornar um dos observadores mais poéticos e espirituais
dos efeitos da bomba na mente e alma humanas. Nagai se tornou um dos principais
conselheiros espirituais em Urakami e na Nagasaki pós-apocalipse (pág. 362).
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Dr. Nagai e seus filhos em Nyokodo |
Logo no primeiro outono depois da bomba, ele desceu o morro, adentrou a zona
proibida, se converteu em rato de laboratório e deixou seu cabelo crescer à
Einstein. Ele batizou sua cabana de Nyokodo
– o eremitério “Como a ti mesmo” (pág. 299). Próximo à morte, após ter passado
inúmeras lições de vida para os que o visitavam, Nagai, católico, resumia o seu
princípio de vida em “Ame ao próximo como a si mesmo” (pág. 331).
Já
Masahiro Sasaki tinha 5 anos no dia da queda da bomba. Ao crescer, propagou a
mensagem da sua irmã – Sadako Sasaki, que aos 12 anos ainda vivia sob os
efeitos colaterais da chuva negra, quando fez um pássaro de papel e escreveu
nas asas: “Um dia você vai levar a paz voando ao redor do mundo” (pág. 363).
Masahiro, estando nos Estados Unidos após o 11 de Setembro de 2001, colocou aos
seus ouvintes um princípio similar que já estava ficando conhecido pela
expressão “a corrente do bem” (1). O lema essencial passava por “assim como a ti
mesmo” (ou Nyokodo) (...)
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Masahiro Sasaki |
Alguns
sobreviventes do 11 de Setembro e suas famílias saíram do encontro com Masahiro
com sua maneira de pensar transformada. Não muitos; porque as feridas ainda
eram recentes para que a maioria fosse tocada por palavras. Apenas alguns foram
tocados – só uns poucos, na verdade. Mas estes poucos já poderiam ser o
suficiente (pág. 353).
E
em relação a Omoiyari? Podemos dizer, grosso modo, que Nyokodo foi o meio, mas a verdadeira mensagem pode ser condensada
em Omoiyari. Antes do falecimento de
Sadako, Masahiro e a irmã estabeleceram um ditado que lhes dava força para
continuar. E ele se resumia na palavra Omoiyari,
que significava “Em seu coração, sempre pense na outra pessoa antes de você”
(pág. 331).
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Sadako Sasaki, em foto tirada por seu irmão, Masahiro |
“Eu
acho que Omoiyari é a melhor maneira
de começar”, Masahiro Sasaki disse naquela ocasião, com os sobreviventes do 11
de Setembro. “A pior maneira de começar é nos chamarmos de vítimas. Para dizer
‘vítima’ é preciso haver vitimizador, e o vitimizador leva a culpa; e assim
começa o ciclo de culpa. Por exemplo,
se dissermos ‘vítima de Hiroshima’, a próxima frase que aparecer vai envolver
Pearl Harbor e a cadeia de culpa fica presa em acontecimentos do passado”
(...). Aos adultos na plateia, Masahiro explicou: “O que estou tentando dizer é
que não importa quem lançou a bomba. Não é uma questão relevante. Nunca deveria
ser, em nenhum país. É uma questão para toda a humanidade. A coisa importante é
que eu e Sadako conhecíamos o sentimento de Omoiyari
– e se esse princípio for ser seguido e passado adiante por apenas alguns de vocês
presentes aqui nesta sala, hoje, com o tempo os perigos deste mundo poderão
diminuir. Vocês precisam superar a tristeza e sair dela passando adiante esta
simples filosofia para a nova geração” (págs. 352-354).
ADICIONAIS
(1)
O
filme “A Corrente do Bem” (2000) é o símbolo do movimento citado. Nele, um
professor interpretado por Kevin Spacey instiga seus alunos da sétima série a
propor um meio de transformar o mundo para melhor. Haley Joel Osmont,
ator-mirim que ficou conhecido pela produção “O 6º Sentido”, faz o papel de
Trevor Mckinsey. Ele propõe, então, que cada pessoa faça o bem para outras 3
pessoas, independentemente de qualquer desejo ou contrapartida. Essa pirâmide
filosófica poderia alterar o mundo;
(2)
O
livro possui um prefácio no qual o autor dá uma breve explicação sobre uma
querela judicial no qual se envolveu, evitando desqualificar-se quanto a
interlocutor para o tema. Certamente esta foi uma preocupação muito
auto-centrada. O que eu quero dizer? Desconhecia tal fato e, para mim, era
irrelevante para o livro em si. Mas como esta era uma reedição, entende-se a
preocupação do autor;
(3)
Num
livro cheio de nomes parecidos, extremamente importante foi a colocação de um
capítulo, ao final, somente para identificar separadamente cada uma das pessoas
ali citadas (págs. 355-365). Além disso, o índice remissivo também foi
essencial para a redação, por exemplo, deste post;
(4)
O
início do livro é dedicado às explicações técnico-médicas sobre as reações
imediatas dos sobreviventes e como se deu a cadeia da explosão da bomba atômica
de Hiroshima – replicado em menor medida quando da descrição da explosão de
Nagasaki. Entendemos este trecho como relevante para a completa compreensão do
leitor no tempo e no espaço do horror sofrido pelas vítimas. Mas devo confessar
que foi cansativo. O livro ganha em dinâmica quando passam a ser retratados e
inseridos no contexto a dinâmica da ação, e os sentimentos ali inscritos, das
tripulações responsáveis pelo bombardeio;
(5)
Para
os viciados em super-heróis e quadrinhos interessante mencionar que Stan Lee,
mago da Marvel, então jornalista e conhecido como Stanley Lieber, tinha sido
destacado como escriba militar. A mitologia atômica o envolveu de tal maneira
que gerou sua imaginação abstrata para transformações radioativas, auxiliando a
trazer à vida os heróis da supracitada editora. Basta dizer que naquela foi
divulgada a possibilidade de picadas de aranhas gerarem algum desdobramento
(Homem-Aranha); o impacto dos raios-gama sobre o homem (Hulk); as mutações
gerando seres disformes e a doença atômica chamada de Doença X (X-men), entre
outras coisas. Além disso, não exatamente vinculado à Stan Lee, mas parece
pouco provável que ele não tenha tomado conhecimento posteriormente, a Hell’s
Kitchen tão propagada em torno do personagem Demolidor, foi o local de guarda
do urânio utilizado para as duas bombas atômicas. Ora, o dito personagem ganhou
suas habilidades ao ser atropelado por um caminhão contendo produtos
químicos... em Hell’s Kitchen! Para mais detalhes ver páginas 347 e 379; e
|
James Cameron |
(6)
James
Cameron teve contato com Tsutomu Yamaguchi, um dos duplos sobreviventes de
Hiroshima e Nagasaki, no final de sua vida, com 93 anos, no ano de 2009 – ele
veio a falecer em 2010, ano de edição do livro.
|
Tsutomu Yamaguchi |
Em Nagasaki, após depositar
flores e ter tido contato com o japonês que se tornou um dos maiores defensores
da paz no mundo, ele afirmou: “Yamaguchi-san disse algo muito interessante
quando tomou nossas mãos – ele afirmou: ‘Meu dever foi cumprido’. (...) Passou
a missão adiante. Agora cabe a nós fazer algo a respeito, e cabe a todas as
pessoas de boa consciência fazer algo sobre isso” (pág. 383). Na capa do livro
há outra afirmação dele: “Há anos desejo fazer um filme sobre os bombardeios de
Hiroshima e Nagasaki e este é um importante relato de um dos eventos mais
marcantes do século XX”. Se Cameron cumprir com este desejo, estou certo que
será um dos filmes mais marcantes da história da humanidade. O roteiro está
pronto. Falta apenas rodar.