terça-feira, 1 de agosto de 2023

Quando Deixamos de Entender o Mundo

 

É muito difícil distinguir entre um homem de gênio e um louco.

Honoré de Balzac


Ao ter acesso ao livro “Quando Deixamos de Entender o Mundo”, de Benjamín Labatut, holandês que vive no Chile desde os seus 14 anos, confesso que não sabia muito do que esperar. Estava curioso para ver em quais teias me enredava naquele relato, misto de não-ficção e ficção, que traça uma trajetória entre grandes gênios da humanidade, que com sua habilidade para ciências exatas, buscaram entender a essência do que se é do que se pode ser em termos de universo. No meio desse caminho, muitos deles se perderam, imersos em suas loucuras, sendo incapazes de decifrar os segredos prescrutados, gerando uma ânsia e um medo pelo inalcançado.

 

A obra e seu autor.

A editora Todavia, que publicou a edição de 174 páginas a qual tive acesso, sendo a edição original de 2019, apresenta a obra cujo título em espanhol é “Un Verdor Terrible” – o que numa tradução direta significaria Uma Vegetação Terrível – o que nos remete à imagem da dificuldade do ser humano em enxergar a floresta, o todo – como sendo uma ferramenta que nos faz “contemplar ao mesmo tempo a força fascinante e as contradições sombrias do gênio humano, iluminando as teias causais que retroalimentam a intimidade e a história, a ciência e a imaginação”.

 

OBS.: na verdade o “verdor terrível” faz parte de uma citação ao final do primeiro capítulo, sob a ótica da vingança da natureza ao ver a humanidade diminuída a um número insuficiente de seres para sua consumação e a retomar seu espaço, “espalhando-se sobre a face da terra até cobri-la completamente, afogando todas as formas de vida sob um verdor terrível”, tal qual um filme de M. Night Shyamalan.

 

O livro em si pauta sua narrativa alucinante, dividida em 5 capítulos – Azul da Prússia / A Singularidade de Schwarzschild / O Coração do Coração / Quando Deixamos de Entender o Mundo / Epílogo: o Jardineiro Noturno – criando links numa cadeia de causa e consequência entre os pensamentos de cientistas considerados sumidades, cada um a seu tempo e com sua obra. Nenhum deles, uma vez citado, escapa de ter sua vida escrutinada, esmiuçada, desde a origem de suas maiores angústias até alcançarem os píncaros de seus pensamentos e raciocínios abstratos.

 

Por mais louco e estranho que possam parecer, para os curiosos de plantão parece que esses links geram uma sede, uma curiosidade, de saber até onde esses gênios de plantão irão chegar para fazer valer suas teorias. Ou se estas os consumirão até o fim de suas existências. Assim sendo, cada um deles merece seu devido destaque, algo muito difícil de se alcançar por um autor, que é o exercício do devido equilíbrio entre os diferentes personagens, sendo eles fictícios ou não.

 

Em Azul da Prússia, por exemplo, o autor inicia demonstrando a importância de um produto químico que viria a se transformar num veneno mortal, para desgosto do seu criador, que buscava, a princípio, apenas uma tonalidade diferenciada de cor ou a geração de nitrogênio artificial de modo facilitar a produção de alimentos, mas que foi cooptado pelo complexo industrial nazista como arma de guerra. Fritz Haber teve assim sua trajetória narrada nas primeiras páginas deste livro, indo do sucesso ao fracasso no seu íntimo, no âmago do seu ser.

 

Nos capítulos seguintes temos enredos rocambolescos, de glória e decepção, envolvendo figuras como Albert Einstein, Karl Schwarzschild, Shinichi Mochizuki, Alexander Grothendieck, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger e Niels Bohr. Cada um desses grandes cientistas imersos em disputas, algumas vezes intelectuais, outras vezes movidas pela mesquinhez na luta por seu espaço na História, mas quase todos eles – talvez o mais são seja justamente aquele que nos legou a icônica imagem da língua para fora (Einstein) – enveredando pela loucura final em suas vidas, ou ainda uma dedicação que resultou num fim por vezes prosaico, sem o mesmo fulgor de quando estavam no auge de sua influência acadêmica, quando não no ostracismo total de uma vivência singular, perdidos em meios aos seus pensamentos.

 

Enfim, o livro prende do início ao fim, mais pela curiosidade mórbida do ser humano sobre a que tudo aquilo irá levar do que pela sua prosa nada leve. É como ler um obituário repleto de loucos e gênios, como se a perversidade que nos cabe em ver a decadência do outro nos deliciasse e ao mesmo tempo nos compadecesse do potencial perdido em cada um de nós. Vale a pena, pois quem de nós em algum momento não deixou de entender o mundo em sua completude?

 

Fritz Haber foi um químico alemão laureado com o Nobel de Química de 1918 pela descoberta da síntese do amoníaco, importante para fertilizantes e explosivos. A produção de alimentos para metade da população atual depende deste método para a produção de fertilizantes. Haber também teve uma contribuição valiosa para a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, através de seus estudos sobre a aplicação da amônia para produzir a pólvora foi possível reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência dos explosivos.

Albert Einstein foi um físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica. Ele nasceu em 14 de março de 1879 em Ulm, Reino de Württemberg, Império Alemão e faleceu em 18 de abril de 1955 em Princeton, New Jersey, Estados Unidos. Einstein é mais conhecido por sua fórmula de equivalência massa-energia, E = mc² — que foi chamada de “a equação mais famosa do mundo” — e foi laureado com o Prêmio Nobel de Física de 1921 “por suas contribuições à física teórica” e, especialmente, por sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico.

Karl Schwarzschild foi um físico e astrônomo alemão que forneceu a primeira solução exata para as equações de campo de Einstein da relatividade geral, para o caso limitado de uma única massa esférica não rotativa. Ele conseguiu isso em 1915, o mesmo ano em que Einstein introduziu a relatividade geral. A solução de Schwarzschild, que faz uso das coordenadas de Schwarzschild e da métrica de Schwarzschild, leva a uma derivação do raio de Schwarzschild, que é o tamanho do horizonte de eventos de um buraco negro não rotativo. Schwarzschild morreu no ano seguinte da doença autoimune pênfigo, que ele desenvolveu enquanto estava na frente russa.

Shinichi Mochizuki é um matemático japonês especializado em teoria dos números e geometria algébrica. Ele é um dos principais contribuintes para a geometria anabeliana e suas contribuições incluem sua solução da conjectura de Grothendieck na geometria anabeliana sobre curvas hiperbólicas sobre campos numéricos. Mochizuki também trabalhou na teoria de Hodge-Arakelov e na teoria de Teichmüller p-ádica. Ele desenvolveu a teoria inter-universal de Teichmüller, que atraiu a atenção de não-matemáticos devido às reivindicações de que ela fornece uma resolução da conjectura abc.

Alexander Grothendieck foi um matemático nascido na Alemanha e naturalizado francês em 1971. Ele foi o fundador de uma escola própria sobre geometria algébrica, cujo desenvolvimento influenciou profundamente na década de 1960. Em 1966, Grothendieck recebeu a Medalha Fields, que recusou. Ele foi célebre por suas firmes posições pacifistas e ecologistas. Grothendieck morreu em 13 de novembro de 2014.

Werner Heisenberg foi um físico teórico alemão que recebeu o Nobel de Física de 1932 pela criação da mecânica quântica. Ele estabeleceu as bases da formulação matricial da mecânica quântica em 1925. Em 1927, publicou o artigo Über den anschaulichen Inhalt der quantentheoretischen Kinematik und Mechanik, em que apresenta o Princípio da incerteza. Heisenberg também fez importantes contribuições teóricas nos campos da hidrodinâmica de escoamentos turbulentos, no estudo do núcleo atômico, do ferromagnetismo, dos raios cósmicos e das partículas subatômicas. Ele teve ainda uma contribuição fundamental no planejamento do primeiro reator nuclear alemão em Karlsruhe e de um reator de pesquisa em Munique, em 1957.

Erwin Schrödinger foi um físico teórico austríaco que recebeu o Nobel de Física de 1933 pela criação da mecânica quântica, especialmente a equação de Schrödinger. Ele também fez importantes contribuições teóricas nos campos da hidrodinâmica de escoamentos turbulentos, no estudo do núcleo atômico, do ferromagnetismo, dos raios cósmicos e das partículas subatômicas.

Niels Bohr foi um físico teórico dinamarquês que fez contribuições fundamentais para a compreensão da estrutura atômica e da mecânica quântica, pela qual recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1922. Ele propôs um modelo atômico que leva seu nome e é capaz de explicar fenômenos como o efeito fotoelétrico.

Obs.: As informações sobre cada um dos cientistas acima foram obtidas com auxílio da ferramenta de IA do Bing/Microsoft.