É
muito difícil distinguir entre um homem de gênio e um louco.
Honoré
de Balzac
Ao
ter acesso ao livro “Quando Deixamos de Entender o Mundo”, de Benjamín Labatut,
holandês que vive no Chile desde os seus 14 anos, confesso que não sabia muito
do que esperar. Estava curioso para ver em quais teias me enredava naquele
relato, misto de não-ficção e ficção, que traça uma trajetória entre grandes
gênios da humanidade, que com sua habilidade para ciências exatas, buscaram
entender a essência do que se é do que se pode ser em termos de universo. No
meio desse caminho, muitos deles se perderam, imersos em suas loucuras, sendo
incapazes de decifrar os segredos prescrutados, gerando uma ânsia e um medo
pelo inalcançado.
A
editora Todavia, que publicou a edição de 174 páginas a qual tive acesso, sendo
a edição original de 2019, apresenta a obra cujo título em espanhol é “Un Verdor
Terrible” – o que numa tradução direta significaria Uma Vegetação Terrível
– o que nos remete à imagem da dificuldade do ser humano em enxergar a floresta,
o todo – como sendo uma ferramenta que nos faz “contemplar ao mesmo tempo a
força fascinante e as contradições sombrias do gênio humano, iluminando as teias
causais que retroalimentam a intimidade e a história, a ciência e a imaginação”.
OBS.: na verdade o
“verdor terrível” faz parte de uma citação ao final do primeiro capítulo, sob a
ótica da vingança da natureza ao ver a humanidade diminuída a um número insuficiente
de seres para sua consumação e a retomar seu espaço, “espalhando-se sobre a
face da terra até cobri-la completamente, afogando todas as formas de vida sob
um verdor terrível”, tal qual um filme de M. Night Shyamalan.
O
livro em si pauta sua narrativa alucinante, dividida em 5 capítulos – Azul da Prússia
/ A Singularidade de Schwarzschild / O Coração do Coração / Quando Deixamos de
Entender o Mundo / Epílogo: o Jardineiro Noturno – criando links numa
cadeia de causa e consequência entre os pensamentos de cientistas considerados
sumidades, cada um a seu tempo e com sua obra. Nenhum deles, uma vez citado,
escapa de ter sua vida escrutinada, esmiuçada, desde a origem de suas maiores
angústias até alcançarem os píncaros de seus pensamentos e raciocínios abstratos.
Por
mais louco e estranho que possam parecer, para os curiosos de plantão parece
que esses links geram uma sede, uma curiosidade, de saber até onde esses
gênios de plantão irão chegar para fazer valer suas teorias. Ou se estas os
consumirão até o fim de suas existências. Assim sendo, cada um deles merece seu
devido destaque, algo muito difícil de se alcançar por um autor, que é o exercício
do devido equilíbrio entre os diferentes personagens, sendo eles fictícios ou
não.
Em
Azul da Prússia, por exemplo, o autor inicia demonstrando a importância de um
produto químico que viria a se transformar num veneno mortal, para desgosto do
seu criador, que buscava, a princípio, apenas uma tonalidade diferenciada de
cor ou a geração de nitrogênio artificial de modo facilitar a produção de
alimentos, mas que foi cooptado pelo complexo industrial nazista como arma de
guerra. Fritz Haber teve assim sua trajetória narrada nas primeiras páginas
deste livro, indo do sucesso ao fracasso no seu íntimo, no âmago do seu ser.
Nos
capítulos seguintes temos enredos rocambolescos, de glória e decepção, envolvendo
figuras como Albert Einstein, Karl Schwarzschild, Shinichi Mochizuki, Alexander
Grothendieck, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger e Niels Bohr. Cada um desses
grandes cientistas imersos em disputas, algumas vezes intelectuais, outras
vezes movidas pela mesquinhez na luta por seu espaço na História, mas quase
todos eles – talvez o mais são seja justamente aquele que nos legou a icônica
imagem da língua para fora (Einstein) – enveredando pela loucura final em suas
vidas, ou ainda uma dedicação que resultou num fim por vezes prosaico, sem o mesmo
fulgor de quando estavam no auge de sua influência acadêmica, quando não no ostracismo
total de uma vivência singular, perdidos em meios aos seus pensamentos.
Enfim,
o livro prende do início ao fim, mais pela curiosidade mórbida do ser humano
sobre a que tudo aquilo irá levar do que pela sua prosa nada leve. É como ler um
obituário repleto de loucos e gênios, como se a perversidade que nos cabe em
ver a decadência do outro nos deliciasse e ao mesmo tempo nos compadecesse do
potencial perdido em cada um de nós. Vale a pena, pois quem de nós em algum
momento não deixou de entender o mundo em sua completude?
Fritz Haber
foi um químico alemão laureado com o Nobel de Química de 1918 pela descoberta
da síntese do amoníaco, importante para fertilizantes e explosivos. A produção de
alimentos para metade da população atual depende deste método para a produção
de fertilizantes. Haber também teve uma contribuição valiosa para a Alemanha
durante a Primeira Guerra Mundial, através de seus estudos sobre a aplicação da
amônia para produzir a pólvora foi possível reduzir os custos de produção e
aumentar a eficiência dos explosivos.
Albert
Einstein foi um físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade
geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica.
Ele nasceu em
14 de março de 1879 em Ulm, Reino de Württemberg, Império Alemão e faleceu em
18 de abril de 1955 em Princeton, New Jersey, Estados Unidos. Einstein é
mais conhecido por sua fórmula de equivalência massa-energia, E = mc² — que foi
chamada de “a equação mais famosa do mundo” — e foi laureado com o Prêmio Nobel
de Física de 1921 “por suas contribuições à física teórica” e, especialmente,
por sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico.
Karl
Schwarzschild foi um físico e astrônomo alemão que forneceu a primeira solução
exata para as equações de campo de Einstein da relatividade geral, para o caso
limitado de uma única massa esférica não rotativa. Ele conseguiu
isso em 1915, o mesmo ano em que Einstein introduziu a relatividade geral.
A solução de
Schwarzschild, que faz uso das coordenadas de Schwarzschild e da métrica de
Schwarzschild, leva a uma derivação do raio de Schwarzschild, que é o tamanho
do horizonte de eventos de um buraco negro não rotativo. Schwarzschild
morreu no ano seguinte da doença autoimune pênfigo, que ele desenvolveu
enquanto estava na frente russa.
Shinichi
Mochizuki é um matemático japonês especializado em teoria dos números e
geometria algébrica. Ele é um dos principais contribuintes para a geometria
anabeliana e suas contribuições incluem sua solução da conjectura de
Grothendieck na geometria anabeliana sobre curvas hiperbólicas sobre campos
numéricos. Mochizuki também trabalhou na teoria de Hodge-Arakelov e na teoria
de Teichmüller p-ádica. Ele desenvolveu a teoria inter-universal de
Teichmüller, que atraiu a atenção de não-matemáticos devido às reivindicações
de que ela fornece uma resolução da conjectura abc.
Alexander
Grothendieck foi um matemático nascido na Alemanha e naturalizado francês em
1971. Ele foi o fundador de uma escola própria sobre geometria
algébrica, cujo desenvolvimento influenciou profundamente na década de 1960.
Em 1966,
Grothendieck recebeu a Medalha Fields, que recusou. Ele foi célebre
por suas firmes posições pacifistas e ecologistas. Grothendieck morreu em 13 de
novembro de 2014.
Werner Heisenberg foi um físico teórico alemão que recebeu o Nobel
de Física de 1932 pela criação da mecânica quântica. Ele estabeleceu as bases
da formulação matricial da mecânica quântica em 1925. Em 1927, publicou o
artigo Über den anschaulichen Inhalt der quantentheoretischen Kinematik und
Mechanik, em que apresenta o Princípio da incerteza. Heisenberg também fez
importantes contribuições teóricas nos campos da hidrodinâmica de escoamentos
turbulentos, no estudo do núcleo atômico, do ferromagnetismo, dos raios
cósmicos e das partículas subatômicas. Ele teve ainda uma contribuição
fundamental no planejamento do primeiro reator nuclear alemão em Karlsruhe e de
um reator de pesquisa em Munique, em 1957.
Erwin
Schrödinger foi um físico teórico austríaco que recebeu o Nobel de Física de
1933 pela criação da mecânica quântica, especialmente a equação de Schrödinger.
Ele também
fez importantes contribuições teóricas nos campos da hidrodinâmica de
escoamentos turbulentos, no estudo do núcleo atômico, do ferromagnetismo, dos
raios cósmicos e das partículas subatômicas.
Niels Bohr
foi um físico teórico dinamarquês que fez contribuições fundamentais para a
compreensão da estrutura atômica e da mecânica quântica, pela qual recebeu o
Prêmio Nobel de Física em 1922. Ele propôs um modelo atômico que
leva seu nome e é capaz de explicar fenômenos como o efeito fotoelétrico.
Obs.:
As informações sobre cada um dos cientistas acima foram obtidas com auxílio da
ferramenta de IA do Bing/Microsoft.