quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A Confissão da Leoa

Sempre que vemos o noticiário sobre a chegada de mais um período de secas no Nordeste Brasileiro e as mazelas geradas a partir daí nos perguntamos como o homem, a sociedade e o Governo enfim, ainda não encontraram uma solução para um mal que aflige uma região há tantos e tantos anos. A primeira explicação para esta repetida pergunta é a chamada “Economia da Seca”.

Este conceito descreve o fato de que alguns setores se beneficiam deste estado de coisas – principalmente os políticos da região, que podem vender benesses em momentos de crise em troca de votos. Além disso, toda uma cadeia produtiva é formada em torno das necessidades existentes – carros-pipa, obras de infraestrutura (que infelizmente descambam para desvios em termos de seu suporte financeiro), entre outros.

Agora, lhes pergunto: caso fechássemos os olhos e tentássemos imaginar uma outra região do mundo que sofresse algo semelhante, ou até mesmo pior, qual seria a primeira resposta que viria à cabeça? Tenho quase certeza que a maior parte de vocês terá imaginado África. Infelizmente, tal percepção é verdadeira. Estes problemas – e muitos outros mais graves, como guerras civis, por exemplo, atingem quase que um continente inteiro.

Porém, de igual maneira que o Nordeste Brasileiro, a África também é um celeiro de bons escritores, escritores estes que têm como um dos seus principais elementos motivadores demonstrar o que ocorre a sua gente, qual um clamor por mais justiça. No caso específico que analisaremos hoje estou falando de Mia Couto e sua obra “A Confissão da Leoa” – Ed. Companhia das Letras – São Paulo – 2012 – 251 págs.

O autor e sua obra

A primeira coisa que me chamou atenção nesta linha foi o aviso dado pela Editora logo na abertura do livro – “A editora manteve a grafia vigente em Moçambique, observando as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990”. Ora, tal senão melhor para que possamos nos sentir ambientados em meio aos africanos de fala portuguesa, podendo, ao ler, quase que “ouvir” o seu sotaque. Como um exemplo somos recebidos com a palavra “receção”, que nada mais é do que a nossa “recepção” [e não recessão, como alguns podem ter imaginado].

A estória se passa numa aldeia, no interior de Moçambique, chamada Kulumani. Lá, os seus habitantes são assombrados por ataques de leões, que atacam principalmente as mulheres. Um caçador é chamado para resolver a questão, Arcanjo Baleiro é o seu nome e como protagonista da estória faz contraponto com a outra protagonista, uma mulher da localidade chamada Mariamar Mpepe.

O relato é estruturado da seguinte forma: os capítulos revezam-se, tendo ora o relato do caçador e ora de Mariamar. Desta forma temos dois olhares sobre o desenrolar da estória, repleta de fatos, infelizmente, próximos (ou piores) dos que nós colocamos acima. Temos assim o político interesseiro, o policial transgressor, o pai de família de péssima índole, as mulheres negligenciadas em seus direitos, além do forte elemento da religiosidade e da tradição afro influenciando o modo de pensar das pessoas, em alguns momentos com sabedoria – os capítulos são abertos com provérbios africanos (1) – algumas vezes com um impacto negativo, ao trazer relevo para credos geradores dos medos e neuroses impostos com o intuito único e exclusivo de manipular o povo.

Particularmente percebo um arquétipo presente na estrutura dual: a narrativa do caçador, em que pese suas digressões a respeito dos problemas familiares e em como isso influenciam seu modo de ser, tendem a ser mais objetivos, factuais, do que os capítulos conduzidos por Mariamar. Esta tem como principal elemento a força dos sentimentos a conduzir suas ações, passando a maior parte do tempo a conjecturar, a relembrar, ora com melancolia, ora com desprezo, sobre o seu passado, presente e futuro.

Desta forma temos assim formado o binômio “homem” – o caçador, o objetivo, o duro perante as crueldades da vida – e “mulher” – dependente, que não suporta o sofrimento imposto (2), a sentimental – etc. Porém, o mais engraçado é que, numa leitura ampla, em verdade, em que pese esta característica estereotipada dos narradores, os principais elementos que fazem com que a história se desenvolva são os personagens femininos, tendo os masculinos apenas que acompanhar a corrente do rio – no caso da estória, o Lideia – como meros coadjuvantes.

Enfim, as mulheres são o fio condutor, a mola mestra de todas as ações, tal qual numa família de leões, em que a leoa é a caçadora, a líder do grupo. Muito próximo, eu diria, da situação presente na atual sociedade em que vivemos. Os homens ainda se iludem sobre sua importância exagerada. As leoas estão no comando, nós somente temos que seguir o rumo dos rios de nossas vidas, ditados por elas. Homens fracos, mulheres fortes, esta talvez seja a principal mensagem que o autor extrai da realidade de sua África, reproduzida a partir de uma pequena aldeia do interior de Moçambique.

(1)   O que eu mais gosto é: “Todas as manhãs a gazela acorda sabendo que tem que correr mais veloz que o leão ou será morta. Todas as manhãs o leão acorda sabendo que deve correr mais rápido que a gazela ou morrerá de fome. Não importa se és um leão ou uma gazela: quando o Sol desponta o melhor é começares a correr” – pág. 79.
(2)   Deve-se ressaltar que os homens, caso passassem pelas vicissitudes enfrentadas pelas mulheres africanas em suas aldeias afastadas, não tenho dúvida, fraquejariam.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Banalogias

O que é uma boa conversa de bar? Quem seria eu – um abstêmio – para dizer o que é uma boa conversa de bar? Ora, eu seria o chato, o sóbrio, o motorista da vez – se tivesse carteira, há muito engavetada (1) – aquele que presta atenção nos detalhes, que grava, de memória, as pequenas indiscrições, aquele candidato em potencial para ser objeto de uma “queima de arquivo” futura, ou seja, um perigo!

Da minha vasta experiência em acompanhar tais “debates” posso lhes dizer uma coisa: uma boa conversa de bar gira em torno de temas polêmicos. E se o tema não for polêmico, os debatedores tratarão de transformá-lo em foco de uma luta encarniçada por fazer valer suas opiniões. Nessa verdadeira batalha, o bom argumentador – os “machos-alfa” do grupo – normalmente prevalecem (ou rapidamente revertem a posição para apoiar o lado vencedor).

Mas a verdadeira vitória deve vir pela palavra, pois o bom argumentador somente se faz a partir de, adivinhem, da quantidade de argumentos que possui. Não adianta querer dar um soco na mesa, falar mais alto – em que pese serem cenas comuns numa mesa de bar – para dar a entender de que estão com a razão. Normalmente estes são subterfúgios daqueles que não possuem mais argumentos e querem se fazer valer de altercações físicas para demonstrarem seu poder. Pobres. Dito isto, qual seria o perfil do campeão?

Encontram-se bons argumentadores em qualquer lugar. Os intelectuais boêmios podem ser dos melhores, uma vez que abastecidos pela “coragem alcoólica”, se vêem sem freios para expor suas idéias e temas, suas abordagens e fraquezas, desde que estas últimas sirvam para quebrar as barreiras do interlocutor, que se abriria, assim, para receber, quando pensa que por dó, um “soco na boca do estômago”, tal qual um harakiri imposto, se vê enredado, quase que obrigado, a concordar com o “fraco” do outro lado da mesa. Ou seja, muito cuidado, mantenha os punhos em posição de defesa, pois quando menos se espera, a palavra atirada alcança seu intento.

Uma boa amostra deste universo pode ser encontrado no livro “Banalogias” – Francisco Bosco – Rio de Janeiro – Ed. Objetiva – 2007- 206 págs.. Bosco, como tal apresentado, trata-se de um intelectual com um vasto arsenal do qual se mune para dialogar com o leitor sobre os mais diversos temas. Pesquisador de Teoria Literária, ensaísta e letrista, editor da revista Cultura Brasileira Contemporânea e colunista da revista Cult, ou seja, tem o shape necessário para enfrentar as mais duras contendas que viessem a surgir pela frente. Em sua obra, abre um vasto leque de temas, típico das múltiplas “viagens” que podem ser feitas ao se sentar, com amigos, para divagar (2).


Das qualidades que identifiquei devo ressaltar uma: sabe dissimular como ninguém qual a conclusão final de seus ensaios, levando ao leitor conjecturar, construir seu próprio caminho e pensamento, porém sendo escoltado pelos argumentos do autor. Isso se inicia pelos títulos dos textos, que não dão nenhuma pista (com uma ou outra exceção) da linha central do raciocínio a vir. Vou ter a ousadia de descortinar isso um pouco na esperança de que vocês se sintam mais estimulados a lê-lo:

Dialética dos Playboys – tratado sobre a percepção futura daqueles monstros que nos assombravam em épocas escolares;
Tatto you – o verdadeiro objeto do desejo que faz um ser humano se tatuar;
O Comedor de Criancinhas – uma tentativa de definir “o que é” Michael Jackson, como se isso fosse possível, vis a vis a hipocrisia da sociedade norte-americana;
Psicologia da Acne – como lidar, somente com a mente, as espinhas;
O Indireto Afetivo na Linguagem do Carioca – uma análise da expressão “Te Ligo!”;
Os Nomes e a Bola: dos Apelidos no Futebol Brasileiro – os apelidos como reflexo do estilo brasileiro no famoso esporte bretão;
Os Chatos Trágicos – texto que deve ter sido escrito após uma desilusão amorosa;
Moralidade da Magreza – a urgência de “viver” impondo um estilo de vida que talvez não seja tão saudável assim;
Se Pudesses, Deverias Frequentar Outro Mundo – primo-irmão dos “Chatos (...)” acima, faz a distinção entre paixão e amor, quando chegam ao fim;
As Sinopses – resumos mal-escritos de uma obra maior;
Homoeterologia – qual a diferença entre homossexual, travesti e transexual? Engraçado que tal tema, a princípio, pareceu aquele em que teve maior dificuldade para lidar, pois teve que se apoiar em fontes externas para construir sua argumentação (3). Seria isso um traço de preconceito escondido?
A Ética da Gafieira em 15 Passos – o microcosmo da gafieira desvendado;
Semiologia dos Ritos Fúnebres – como lidar com a morte – sua e de outrem;
“Ou Não” – a construção de um argumentador, a partir da experiência Veloso;
As Piores Dedicatórias do Mundo – o desespero dos escritores nas noites de autógrafos;
Cartografia de um Corpo Reinventado – o “código de ética”, nem tão secreto assim, das prostitutas;
Sartori de Subúrbio – o título original deste texto é mais direto: “Psicologia da Porrinha”, como publicado na revista Argumento, em outubro de 2005;
Elogio da Tristeza – a tristeza como elemento alavancador de obras de arte (seu contraponto: Jorge Ben Jor);
O Sensacionalismo Intelectual – neste texto ele se propõe a criticar os “pseudo-críticos” presentes no jornalismo atual. E para manter o seu argumento, não dá nomes aos bois;
Arte e Cirurgia Estética – a cirurgia estética como uma fuga pela inserção social;
Ignorância² - leia-se “Ignorância ao quadrado”. Texto sobre a ascensão do Vale-Tudo, um tanto deslocado no tempo, pois ainda se remete à época em que os lutadores do UFC (4) eram conhecidos somente em outros países;
Historiosofia – como se constrói um conceito a partir da força das palavras;
Ontologia do Golaço – porque o gol de bola parada não é golaço;
“Letra de Música é Poesia?” – auto-explicativo;
Os Livros Renegados – a percepção negativa das obras escritas em começo de carreira.

Francisco Bosco, o desafiante

Pergunto-lhes: qual dos temas acima não poderia ser eleito para uma boa conversa de bar? O que posso lhes dizer é que, se os elegerem em algum momento, torçam para que o seu interlocutor não seja Francisco Bosco. Se o for, vocês estão perdidos.

(1)   Expirada em 1993 e nunca renovada;
(2)   Talvez um dos grandes méritos do autor seja que, a princípio, ele o fez isoladamente, diante do teclado, como que filosofando para as “multidões futuras” que o leriam.
(3)   Das 11 notas do livro, 5 se referem a pontos deste ensaio.
(4)   Ultimate Fighting Championship – uma das principais organizações de luta de Artes Marciais Mistas (MMA – do original em Inglês). Para mais detalhes sobre o UFC ver http://br.ufc.com/ .

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

HANNIBAL

Toda vez que leio um livro que não seja em Português parece que uma névoa se sobrepõe à mensagem, ao que está tentando ser passado para o leitor (1). Tal não foi diferente com “Hannibal” – Thomas Harris – Ed. Dell Book – 2005 – 546 págs, edição em formato de bolso, típica para viagens.


Essa foi a minha primeira dificuldade com o livro. Sabia que era um thriller – havia visto todos os filmes da série Hannibal (2) – e tinha a expectativa de, por intermédio da leitura do original, perceber o toque do autor na construção de um personagem tão complexo. Outra expectativa gerada é sempre tão falada comparação entre o livro e o filme, que em geral redunda numa derrota acachapante para o formato em película.

Voltando ao primeiro ponto – “the fog”. Mais uma vez confirmei que a leitura de um texto no original me traz sérias dificuldades de concentração e percepção por completo do clima que o autor tenta transmitir para o leitor. Certamente de posse de uma boa tradução para o Português eu me sentiria muito mais tentado a não me desgrudar do livro do que lendo-o em Inglês. Isso não é uma regra geral, mas para mim não funciona.

Thomas Harris

Poderíamos nos perguntar se a própria estória não seria responsável pelo meu desapego para com o livro. Acredito que não. E aí tenho que me remeter à segunda questão apresentada – o vínculo com a obra cinematográfica. Obviamente para tentar me ajudar no andamento da leitura tentava trazer em mente a evolução do filme. Não acredito que seja uma boa fórmula, pois com certeza não a utilizaria se o livro fosse em Português. Mas, pelo menos, eu tentei. O que pude depreender disso:

·         O livro contém, via de regra, muito mais detalhes enriquecedores da cena do que o filme que pretende retratá-lo na telona. Com Hannibal não foi diferente. Podia-se sentir o cheiro da pólvora no ar nas cenas de tiroteio, a tensão nos diálogos entre os oficiais do Federal Bureau of Investigation (FBI), a perspectiva do próximo assassinato do personagem principal, o ódio de Mason Verger por ele, entre muitas outras coisas. Pelo que me lembrava do filme, isto estava diluído. A cena inicial descrita no livro, então, é tão marcante para o leitor que seria impossível eu ter me esquecido completamente dela se a mesma não tivesse sido sub-utilizada no filme (senão tiver sido subtraída, crime capital para um bom roteiro adaptado);
·         O final me surpreendeu. Se foi usado o mesmo final no filme, acredito que tenha sido igualmente sub-aproveitado;
·         Com certeza existem personagens que não devem ter alcançado o nível de importância que têm no livro quando a estória foi levada para o cinema. Diria mesmo que é uma estória em que os personagens coadjuvantes são primordiais fios condutores da mesma, sendo essenciais para o seu sucesso. Seria um prato cheio para um Oscar nessa categoria – não me recordo disso ter acontecido de fato (3).

Cartaz do filme, com o brilhante Anthony Hopkins - como será o Dr. Lecter eternizado

Em termos gerais, portanto, o que posso dizer: o livro tem um “cheiro” de ser muito bom, mas não posso afirmar isso peremptoriamente por causa da “névoa”, pelo “embaçar” do idioma Inglês. Sei que é, no mínimo, tosco fazer tal afirmativa, mas prefiro ser sincero. Minha sugestão: vejam os filmes – ótima série de suspense – mas se forem ler o livro, o comprem em Português. Agora, para fechar, uma pequena dose do multimilionário Dr. Lecter – aliás, a riqueza dele é pouca enfatizada na série cinematográfica – em sua força original, em Inglês:

Dr. Lecter tilted Pazzi [policial italiano] forward against the balcony railing. The railing came to his thighs. Pazzi could look down at the piazza and make out through the floodlights the spot where Savonarola was burned, where he had sworn to sell Dr. Lecter to Mason Verger. He looked up at the clouds scudding low, colored by the floodlights, and hoped, so much, that God could see. Down is the awful direction and he could not help staring there, toward death, hoping against reason that the beams of the floodlights gave some substance to the air, that they would somehow press on him, that he might snag on the light beams. The orange rubber cover of the wire noose cold around his neck, Dr. Lecter standing so close to him. Arrivederci, Commendatore”. (págs. 230-231)

(1)   Engraçado notar que tenho total preferência por filmes legendados, justamente porque posso ouvir, no original, a entonação que os atores estrangeiros colocam em seus personagens. É a arte se manifestando em diferentes níveis, nos tocando de distintas formas, dependendo do meio utilizado.
(2)   O Silêncio dos Inocentes (1991), Hannibal (2001), Dragão Vermelho (2002), Hannibal Rising (A Origem do Mal - 2007).
(3)     Em 2002 os ganhadores do Oscar de Ator e Atriz Coadjuvante foram, respectivamente, Jim Broadbant (Iris)[!?] e Jennifer Connelly (Uma Mente Brilhante) – Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/oscar/vencedores.shtml. Enquanto em 2001 foram Benicio Del Toro (Traffic) e Marcia Gay Harden (Pollock) – Fonte: http://www.cineplayers.com/premiacao.php?id=5&tp=1

domingo, 9 de dezembro de 2012

Rápido e Devagar - duas formas de pensar

Tomar decisões. Um ato tão trivial no nosso dia a dia. Tomamos decisões inúmeras vezes desde que acordamos até a hora em adormecemos, ao final de mais uma jornada. Será que em algum momento vocês já se questionaram se toda uma vida poderia ter tido seu rumo alterado se tivesse escolhido A ou invés de B? Acredito que sim. Olhar para trás e reavaliar situações sempre foi algo extremamente atrativo para o ser humano. Mas devo dizer que em relação especificamente a esta atitude, um passo para o arrependimento, eu criei uma máxima que entendo seja extremamente válida: tomamos a decisão de acordo com as variáveis que temos à mão naquele momento. Assim, de maneira consciente, seguimos determinada estrada porque num átimo de segundo, levando-se em conta todos os dados que estão disponíveis, aquela nos pareceu a melhor opção.

Ora, ora. E não é que muitos anos depois vem a surgir um livro que põe, de certa maneira, esta visão em xeque. Este livro se chama “Rápido e Devagar – duas formas de pensar” – Daniel Kahneman – Rio de Janeiro, Ed. Objetiva – 2012- 610 págs.. Não por acaso o Sr. Kahneman ganhou um prêmio Nobel de Economia pelo artigo que deu origem a esta obra, sendo ele um psicólogo (!?) estudioso da chamada Economia Comportamental. Se os meus nobres colegas e amigos economistas ainda não tinham atinado para este veio inexplorado, lhes apresento então.


Agora, porque este livro coloca em xeque a minha máxima acima apresentada? Simples: ela, a máxima, foi construída sobre a base recebida durante a faculdade – e sobre o que acreditamos ser o chamado “bom senso” – da qual aprendemos que o ser humano é um tomador de decisões racional, pois “(...) a confiança que temos em nossas crenças e preferências intuitivas em geral é justificada. Mas nem sempre. Muitas vezes estamos confiantes mesmo quando estamos errados, e um observador objetivo tem maior probabilidade de detectar nossos erros do que nós mesmos” (pág. 11). Ou seja, nunca nos enganamos tanto!

A teoria defendida por Kahneman (e por seu amigo Amos Tversky – devo dizer, aliás, que é tocante a amizade expressa por Kahneman. Ele sempre cita o seu amigo durante o livro, e a defesa de seus argumentos sempre se inicia com “Amos e eu”) se baseia no que ele chama de Sistemas 1 e 2. Estes remeteriam ao “Rápido e Devagar” presentes no título do livro. Seriam, assim, dizendo grosseiramente, os dois modos com que tomamos decisão rotineiramente. O Sistema 1 seria aquela decisão automática, tomada no ímpeto, a qual fazemos a partir de preconceitos já estabelecidos e para os quais não precisamos pensar muito. Já o Sistema 2 é acionado quando temos que analisar uma situação com calma, antes de seguir adiante por um caminho escolhido. São os ‘”rápido e devagar” do título. E percebam que a diferença de tempo entre um tipo de tomada de decisão e o outro, não necessariamente é longa. Por exemplo: se você é obrigado a fazer uma conta mentalmente, você está tendo que acionar o Sistema 2, pois não pode dar a resposta de pronto.

Daniel Kanehman

Em alguns outros momentos da obra, Kahneman chega à beira da auto-ajuda, muito em função dos resultados alcançados durante os experimentos que validaram suas teorias. “Se você gosta da política do presidente, provavelmente gosta da voz dele e também da sua aparência” (pág. 107). Esse é o chamado “efeito halo”. Numa descrição mais pormenorizada:

Você conhece uma mulher chamada Joan numa festa e a acha agradável e boa de papo. Então ela lhe parece alguém que concordaria em contribuir para caridade. O que você sabe sobre a generosidade de Joan? A resposta correta é que você não sabe praticamente nada, pois há poucos motivos para acreditar que pessoas que são encantadoras em ocasiões sociais também contribuem generosamente com a caridade. Mas você gosta de Joan e vai recuperar a sensação de gostar dela quando pensar a seu respeito. Você também gosta da generosidade e de pessoas generosas. Por associação, você agora está predisposto a acreditar que Joan é generosa. E agora que acredita que ela é generosa, provavelmente gosta ainda mais de Joan que anteriormente, porque adicionou generosidade a suas demais qualidades aprazíveis. (pág. 101)

Enquanto esse fato se circunscrever apenas à possibilidade real ou não de fazer novas amizades, ou seja, se atendo apenas um espaço limitado de influência – a vida privada – tudo bem. O problema é que as mesmas causas e efeitos poderão afetar decisões de grande relevo – uma entrevista para emprego ou até mesmo a adoção ou não de um determinado plano para uma política pública.

Como método durante a escrita, Kahneman, enquanto acadêmico, respeita as boas normas de sempre citar as fontes. Por exemplo, em relação à questão acima – influência sobre as políticas públicas em função dos preceitos individuais dos tomadores de decisão – preocupante é a citação que ele faz de uma teoria exposta pelo psicólogo Paul Slovic – a heurística do afeto. Esta prega que “as pessoas deixam que suas simpatias e antipatias determinem suas crenças acerca do mundo”:

Sua preferência política determina os argumentos que você julga convincentes. Se você apresenta a atual política pública de saúde, acredita que seus benefícios são substanciais e seus custos mais administráveis que os custos das alternativas. Se você é militarista em sua atitude em relação às outras nações, provavelmente acha que elas são relativamente fracas e provavelmente vão se submeter à vontade de seu país. Se você é um pacifista, provavelmente pensa que elas são fortes e não irão se deixar coagir facilmente. Sua atitude emocional em relação a coisas como irradiação de alimentos, carne vermelha, energia nuclear, tatuagens ou motocicletas governa suas crenças sobre seus benefícios e seus riscos. Se você antipatiza com todas essas coisas, provavelmente acredita que seus riscos são elevados, e seus benefícios desprezíveis. (pág. 133)

Mas aí vem uma das muitas perguntas cruciais nesse processo de se analisar os fatores que influenciam a tomada de decisão: o que, ou quais variáveis, vem a moldar os preceitos que construímos em nossa mente? É sabido que no mundo da internet somos bombardeados por todos os lados com informações, algumas válidas, outras nem tanto, mas esse é um fato que nos leva a um desafio – separar o joio do trigo para que os fatores (ou notícias) aos quais somos submetidos tenham um mínimo de fidedignidade para que, com os princípios particulares de cada um, possamos digeri-los de maneira adequada. Por exemplo, Kahneman cita novamente um trabalho de Slovic quando passa a avaliar a ação da mídia sobre nós:

A própria cobertura em si tende para a novidade e a comoção. A mídia não só molda o interesse do público, mas também é por ele moldada. Os editores não podem ignorar as exigências do público de que determinados temas e pontos de vista recebam cobertura extensa. Eventos incomuns (como botulismo) atraem atenção desproporcional e são consequentemente percebidos como menos incomuns do que realmente são. O mundo em nossas cabeças não é uma réplica precisa da realidade; nossas expectativas sobre a freqüência dos eventos são distorcidas pela preponderância e intensidade emocional das mensagens às quais somos expostos. (págs. 176-177)

·         Derrames causam quase o dobro de mortes de todos os acidentes combinados, mas 80% dos participantes [de uma pesquisa] avaliaram a morte acidental como mais provável.
·         Tornados foram vistos como assassinos mais freqüentes do que asma, embora esta última provoque vinte vezes mais mortes.
·         Morte por raios foi julgada menos provável do que morte por botulismo, ainda que seja 52 vezes mais freqüente.
·         Morte por doença é 18 vezes mais provável que morte acidental, mas as duas foram julgadas igualmente prováveis.
·         Morte por acidentes foi avaliada como mais de trezentas vezes mais provável do que morte por diabetes, mas a proporção verdadeira é 1:4. (pág. 176)

Observando tais aspectos fica fácil de entender como Kahneman, na sua preocupação com a rapidez com que determinadas decisões são tomadas (precipitação), alavancou um debate que poderia servir apenas como um pretexto para uma boa conversa na hora do cafezinho com a preocupação em como as políticas públicas são definidas:

(...) as políticas públicas são em última instância sobre pessoas, o que elas querem e o que é melhor para elas. Toda questão envolvendo políticas públicas implica pressuposições acerca da natureza humana, em particular sobre as escolhas que as pessoas podem fazer e as conseqüências de suas escolhas para si mesmas e para a sociedade. (pág 180)

Considero esta reflexão a parte mais rica da obra – o que não deixa de ser uma pena, levando-se em conta a extensão da mesma, mais de 600 páginas. Porém o autor aborda outras questões que têm impacto direto sobre o dia a dia, digamos, do cidadão comum, e não apenas dos “grandes homens e suas grandes decisões”. O risco, nesse caso, é ficar muito próximo do que já citamos anteriormente, de ser classificado como um mero fornecedor de lições de “auto-ajuda”- mesmo em sendo! E esta colocação nos leva a questão dos rótulos (1).

O ser humano é muito dado a rótulos. Em parte isto foi dito acima, quando indicamos como nossas crenças – rótulos – influenciam nossa tomada de decisão. E se nos surpreendêssemos percebendo que os rótulos que nos colocamos a nós mesmos são completamente equivocados? Por exemplo, como vocês acham que reagiriam se soubessem que tem uma pessoa tendo um ataque epilético? A maioria das pessoas têm uma ótima imagem de si mesmo. Um experimento realizado pela Universidade de Michigan, tentou responder a pergunta anterior. Para isso fez uma encenação com 15 participantes. Um deles era um ator, que fingiu estar tendo um ataque. Apenas 4 pessoas atenderam ao pedido de socorro. “Até mesmo pessoas normais, decentes, deixam de acorrer quando esperam que outros assumam o trabalho desagradável de lidar com uma pessoa sofrendo um ataque. E isso inclui você”. (pág. 218) Este fato nos fará crer que todos aqueles que não atenderam são pessoas vis, quando não o são. Mas como é duro enfrentar a realidade nua e crua. Mas mais duro ainda é percebê-la.

Outro fator interessante e motivador da “rotulagem” automática do Sistema 1 – o da resposta rápida na hora da tomada de decisão – é a negligência para com o papel que a sorte tem em determinados resultados alcançados.

Líderes que tiveram sorte nunca são punidos por terem assumido risco demasiado. Pelo contrário, passam a ser vistos como alguém com talento e visão para prever o sucesso, e gente sensata que duvidou deles é vista retrospectivamente como medíocre, tímida e fraca. Alguns golpes de sorte podem coroar um líder inconseqüente com um halo de presciência e coragem. (pág. 256)

É claro, também, que a supervalorização da sorte poderá nos levar a uma visão tacanha, conservadora, dos atos de um bom administrador. Dizer que todos eles o foram devido a um golpe de sorte seria leviano, mas um método para se evitar isto é perceber a coerência e o planejamento como uma característica de suas atividades – a regularidade das ações é um elemento essencial para validá-las. Mas para isso temos que ativar o Sistema 2, o qual temos uma extrema preguiça para fazê-lo. “Por outro lado, consultores de investimento e cientistas políticos que fazem prognósticos de longo prazo operam em um ambiente de validade zero. Seus fracassos refletem a imprevisibilidade básica dos eventos que eles tentam prognosticar” (pág. 299).

Um dado relevante da chamada Economia Comportamental, campo pelo qual Kahneman vem militando a partir do momento que ele tenta inserir as variáveis impostas pela realidade às tomadas de decisão, é que o fator “humano”, muitas vezes deixado de lado pelos economistas da escola racional, traz à tona o verdadeiro papel que a sorte joga em áreas cruciais. Por exemplo, no setor financeiro. Não existe ninguém que possa, de antemão, prever como uma determinada ação de uma determinada empresa irá variar em valor. Perplexos com essa afirmação? Não deviam, pois o óbvio está aqui presente – ninguém pode predizer o futuro. Inúmeros são os fatores que podem influenciar e alterar o rumo das coisas. O próprio Kahneman teve que afetar olhares atravessados, mesmo após ter pesquisado resultados de uma determinada firma, numa série de 08 anos seguidos, e ter identificado que não existia correlação estatística nenhuma entre seus prognósticos e os fatos realmente ocorridos. Na expressão do autor, era o mesmo que “jogar dados”.

“A ilusão de habilidade é mais do que uma mera aberração individual; ela está profundamente arraigada na cultura do mundo financeiro. Fatos que desafiam tais pressupostos básicos – e desse modo ameaçam o meio de vida e a autoestima das pessoas – simplesmente não são absorvidos. A mente não os digere” (pág.270). Existirá sempre a busca por uma relação causal, mesmo quando ela inexiste. Alguns bônus pagos seriam certamente poupados dos bolsos dos acionistas se esta percepção prevalecesse. Porém, é pouco provável que o mercado deixe esta idéia proliferar. E mesmo os usuários, já que todos têm uma atração pela futurologia, desde as mulheres com os cartomantes até os executivos com os consultores.

Conclusão

Todas as vezes em pensei em escrever sobre esse livro uma expressão me vinha a mente – ele era o Tratado sobre o Óbvio. Porém, ele não é exatamente isso. Ele é uma análise de como nos iludimos e não percebemos o óbvio à nossa frente. Me surpreendo que a palavra “óbvio” tenha sido por mim citada somente agora ao final – grifei acima, inclusive, quando ela aparece pela primeira vez. A correlação entre psicologia e economia gerou algo que sempre me inquietou nos tempos de faculdade – a distância das teorias econômicas da realidade. O surgimento da economia comportamental cumpre o papel de cobrir esta lacuna – dizendo o óbvio como, por exemplo, que o fato de que alguns países têm um menor índice de doação se deve simplesmente à exigência de que o doador se identifique, enquanto outros não, você é considerado doador a menos que afirme que não o é; ou então por perceber que uma “adaptação a uma nova situação, tanto boa como má, consiste em grande parte em pensar cada vez menos a respeito. Nesse sentido, a maioria das circunstâncias de vida a longo prazo, incluindo paraplegia e casamento, são estados que a pessoa habita em período parcial, apenas quando pensa neles” (pág. 506). O bem-estar, as emoções, todas elas influenciam nossas tomadas de decisão – casar ou não casar é uma delas. Sorte, competência, são leituras que fazemos a partir de dados que observamos, algumas vezes de maneira errônea. Mas o principal é que a lenda do “homem racional” se desvanece. Somos todos complexos demais, e temos que seguir em frente tendo essa consciência, sem medo de errar. A busca constante pela limpidez e tranqüilidade no agir de nossa vida, evitando a ansiedade – que nos leva a querer prever o futuro a todo momento - é a principal mensagem subliminar que fica desta leitura.

(1)   Na minha modesta opinião um escritor não deve se preocupar com rótulos, e sim com a proteção das suas idéias originais. Como elas serão classificadas perante o público é um dilema “menor”.

domingo, 2 de setembro de 2012

A Construção do Sistema de Patentes no Brasil

Um grande avanço ocorrido nos últimos 20 anos na literatura brasileira foi o encontro do veio histórico como um caminho a ser trilhado rumo à categoria dos bestsellers. Posso estar cometendo algum erro, mas os dois autores que mais rapidamente me vêm a mente para exemplificar o que estou dizendo são Eduardo Bueno, autor, dentre outros, da coleção Terra Brasilis (A Viagem do Descobrimento; Náufragos, Traficantes e Degredados; Capitães do Brasil; e A Coroa, a Cruz e a Espada) (1), e mais recentemente a obra “Brasil: uma História – Cinco Séculos de um País em Construção”. Além dele ainda não há como esquecer o fenômeno Laurentino Gomes, com as obras “1808” e “1822”, apresentando duas épocas e seus acontecimentos fundamentais – que desmistificam algumas alegorias, aliás, mérito dos dois autores aqui citados – para a formação do Brasil e seu povo (2).

Não é esta a pretensão de Leandro Miranda Malavota, cuja obra “A Construção do Sistema de Patentes no Brasil” vamos aqui analisar. Esta partiu de sua tese de Doutorado, defendida em 2011 no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF). Tendo já esse viés por premissa entende-se que o linguajar está mais voltado para o meio acadêmico, característica completamente distinta dos dois autores acima citados.


Porém, mesmo sem ter tal intenção Malavota não deixa de se aproveitar desta tendência. Porque sendo o tema Propriedade Intelectual, e mais especificamente Patentes, um tanto quanto áridos mesmo para os já iniciados na matéria, aguçar a curiosidade do leitor inserindo-as num contexto histórico, de construção do perfil da sociedade brasileira futura, que iria se consolidar durante o século XX no que toca às bases de seu desenvolvimento industrial, acaba sendo o grande atrativo do agora livro.

Podemos perceber, claramente, principalmente em sua segunda metade, as diferentes articulações feitas e os diálogos empreendidos no seio da classe política brasileira e internacional (3) para atender distintos interesses dos grupos então dominantes. O contraponto entre conservadores e liberais, no caso interno brasileiro, visto com riqueza de detalhes, ora buscando atingir um determinado patamar de dominação na cena política, servem, de um certo modo, para exemplificar como a Monarquia, como modo de Governo, foi pouco a pouco sendo corroída pelas suas contradições em lidar com a grande quantidade de vertentes que uma matéria específica poderia ter em termos de impacto da sua possível qualificação enquanto governança. A identificação da origem dos políticos serve inclusive para dar verossimilhança à narrativa, quando podemos perceber os traços de ligação com a oligarquia ou com a classe industrial e de comércio.

Um dos grandes méritos do autor foi a pesquisa profunda e de fôlego feita sobre as chamadas fontes primárias, ao estudar com lupa pedidos de patente cobrindo quase todo o século XIX. Demonstrou-se, assim, que a partir da análise dos pareceres de tais documentos, inseridos devidamente no contexto histórico-político da época, foi possível traçar um quadro claro de como a burocracia estatal brasileira, voltada para o gerenciamento da área tecnológica, construiu-se sob a influência dos mais amplos interesses de grupos específicos, e não necessariamente, em que pese o discurso oficial, para atender as demandas específicas da sociedade como um todo.

Nesse sentido, percebe-se que o principal anseio do autor, o de revelar a importância de uma abordagem histórica para o estudo de uma área a qual a maioria das obras está baseada ou no viés jurídico ou em estudos de desenvolvimento científico (com maior prevalência do primeiro, deve-se dizer) foi alcançado a contento. Porém, não podemos enganar-los. Para se ultrapassar a primeira metade do livro há que se ter um interesse especializado na matéria. Aventurar-se, sem ter tido pelo menos um primeiro insight, uma introdução que seja ao tema, poderá gerar um desassossego no leitor, que assim não virá a ter o ânimo necessário para chegar num ponto de maior atratividade. Ao final, ele próprio percebe que ainda há um longo caminho a trilhar:

“O trabalho do historiador passa por uma série de escolhas, incluindo-se, entre elas, a que face do fenômeno histórico estará a sua lente prioritariamente voltada, posto que a plena apreensão de sua totalidade é um objetivo sobre cujo alcance não nutre mais ilusões. Resignar-se com suas limitações, entretanto, não significa reduzir a importância do historiador nem atenuar sua responsabilidade como intérprete social. A sensação de frustração pode ser mitigada quando se percebe que qualquer iniciativa investigativa provoca e aguça o faro dos seus pares. A pesquisa histórica, portanto, nunca se conclui ou exaure, mas se renova pela ação dos atores inseridos no campo do conhecimento, estes impulsionados por novos tipos de questionamentos, olhares e interpretações” (pág. 258 – grifos nossos).

Ter uma noção dos limites parece ser também outra qualidade do autor. Ele aqui apresenta sua percepção de que se aproxima, e muito, dos seus pares, já iniciados na matéria, e não de novatos. Mas crê, tem esperança, enfim, de ter aberto um novo horizonte em termos de pesquisa sobre a mesma. Acreditamos que tenha tido êxito.

(1)   A coleção Terra Brasilis vendeu mais de 500 mil exemplares, e “Bueno se tornou o primeiro autor brasileiro a possuir simultaneamente quatro livros no topo das listas de mais vendidos dos principais jornais e revistas do país” – Fonte: http://www.45graus.com.br/brasil-uma-historia-de-eduardo-bueno-mostra-a-historia-de-um-pais-em-construcao,geral,66638.html – acessado em 02 de Setembro de 2012;
(2)   “O que o autor não esperava era que o tema atrairia tantos interessados. As duas obras chegaram, juntas, à marca de 1,2 milhão de exemplares vendidos”. Fonte: http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/44430/livros+1808+e+1822+de+laurentino+gomes+ultrapassam+1+milhao+de+exemplares+vendidos/ - acessado em 02 de Setembro de 2012.
(3)   Esta mais especificamente no que tange aos movimentos dos distintos governos em prol de sua indústria nacional ao se perceberem fragilizados na proteção dos inventos desenvolvidos internamente, em seus territórios, quando da emergência das chamadas Exposições Internacionais. Estas eram grandes eventos em que se expunha o que de mais moderno havia no mundo tecnológico até então. “As cidades onde as exposições foram montadas - Londres, Paris, Chicago, entre outras - foram os epicentros da modernidade. [...] As exposições universais queriam ser um retrato em miniatura desse mundo moderno avançado, composto de espetáculos nos campos da ciência, das artes, da arquitetura, dos costumes e da tecnologia. A idéia era mostrar e ensinar as virtudes do tempo presente e confirmar a previsão de um futuro excepcional. A torre Eiffel, o palácio de cristal e a roda gigante eram os símbolos visíveis do avanço tecnológico exibido nas feiras mundiais” (a). Estas vieram a ocorrer, principalmente, a partir de 1862, chegando a totalizar 17 em 60 anos (b). A ausência da proteção quanto às cópias e a própria concorrência pela introdução de tais melhoramentos em distintos mercados fez com que se somasse a um movimento de harmonização de padrões mundial o discurso de homogeneização da legislação patentária em âmbito internacional, que veio a culminar com a assinatura da Convenção da União de Paris (CUP), em 1883, por França, Bélgica, Espanha, El Salvador, Brasil, Guatemala, Itália, Países Baixos, Portugal, Sérvia e Suíça, já em 1883, tendo a adesão ainda de Grã-Bretanha, Tunísia e Equador em 1884 [MALAVOTA – pág. 240 – nota de rodapé nº 74]. (a) Fonte: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CentenarioIndependencia/ExposicoesUniversais. (b) Fonte: http://pt.scribd.com/doc/96939742/exposicoes-internacionais .
(4)   Não há como não deixar de fazer um comentário particular: Malavota é um rubro-negro convicto, torcedor do Flamengo com toda paixão que alguém pode nutrir por um time. Frequentador de estádio, um pouco do seu discurso de consciência em termos das limitações de sua obra poderia facilmente ser traçado como um paralelo com a equipe atual para a qual torce. Mas, mais do que isso, enseja um sentimento desmistificador em relação ao estereótipo do acadêmico alheio às coisas mundanas da vida. E como é tão bom saber que até mesmo os historiadores, com seu linguajar rebuscado, também tem um lado popular em sua alma. Somos ou não somos, os seres humanos, multifacetados, que podemos ir do erudito para o palavreado mais chulo, dependendo do público objetivado? Talvez tenha sido pela exposição de tal veia que os autores mencionados logo no primeiro parágrafo tenham, ao transfigurar isso para o discurso adotado, feito se aproximar do conceito de “celebridades literárias”. Quem sabe um dia Malavota não tente navegar nesses mares por outros já navegados.

Ficha Técnica:

Malavota, Leandro Miranda
A Construção do Sistema de Patentes no Brasil: um olhar histórico
Rio de Janeiro – Ed. Lumen Juris, 2011
308 páginas.

sábado, 1 de setembro de 2012

Livros

Uma nova jornada se inicia. Acho que já escrevi esta frase antes. Mas agora vamos para uma empreitada com características diferentes. Neste novo blog que apresento o eixo central será a análise de obras literárias. Arghhh, dirão alguns de vocês, mas observem que todo crítico se aproveita dos temas inseridos nos livros que analisam para avaliar todo o seu contexto, o conteúdo em si inserido no ambiente a que se propõe ser dissertado.

Dessa forma, quando falar sobre um determinado livro, a idéia é mergulhar no tema proposto pelo próprio autor. De uma certa forma preservo, assim, o espírito dos blogs anteriores, Nikitideas (2003/2005) e o Leopideas (2010/2012). Em ambos os temas foram diversos, e os seus leitores sempre tiveram a liberdade – maior característica da internet, pelo menos na maioria dos países até hoje – de escolha sobre o que queriam ou que não queriam ler ou ter acesso.

Material não faltará, pois como muitos de vocês sabem sou um leitor contumaz. Algumas características diferentes, porém, em relação ao último, estarão presentes. Os links presentes no Leopideas eram muito mais voltados para os meus interesses pessoais. Ora, avaliei que isto foi um erro. Tinha que estar focado no interesse dos leitores. E como o Proximideas será voltado para a crítica literária – e todos os seus vieses, como dito acima – inseri links das livrarias virtuais as quais mais tenho acesso. Dessa forma, caso os leitores se sintam instigados a adquirir a obra ali dissecada, poderão ter acesso direto a ela para compra virtual. Caso não sejam afeitos a tal prática, poderão pelo menos averiguar o preço de mercado para compra em livraria.

Outro ponto diferente em relação ao Leopideas será a periodicidade de postagem dos textos. Esta obedecerá o meu ritmo de leitura das obras. Ou seja, será um tanto quanto errática. Mas como eu tenho um mailing list, e faço a divulgação das publicações via redes sociais, não acredito que isso tenha um impacto negativo exagerado. Por outro lado, acredito que isso dará fôlego suficiente para aqueles que não têm o hábito de averiguar constantemente o texto, que antes era “semanal”, em buscar o blog para se certificar se existe algo novo interessante para ser lido. Para mim, particularmente, será um alívio em não ter a “obrigação” de gerar algo novo num prazo tão rígido. Espero, dessa forma, estar preservando a qualidade do texto em si.

Acrescentei ainda algo que utilizava no início do Nikitideas, há alguns anos atrás. Tinha a preocupação de viabilizar que os meus textos pudessem ser divulgados igualmente no exterior. Naquela ocasião – e lá se vão 09 anos – produzia o texto tanto em Português quanto uma versão em Inglês. Era trabalhoso por demais. Passado algum tempo, desisti dessa ambição. Porém, agora uma ferramenta se oferece para facilitar tal ato. Trata-se do tradutor automático, disponibilizado na barra à direita do vídeo. Muitos de vocês sabem que a tradução que emerge desse tipo de ferramenta não é tão fidedigna assim. Mas se vocês chegarem ao ponto de se interessarem em divulgar as idéias e os debates que podem porventura aqui surgir, terão certamente a iniciativa – em caso de amigos estrangeiros – de no mínimo avisá-los sobre a ferramenta utilizada e, para os realmente interessados e que tenham domínio de idiomas, fazer uma rápida revisão do texto traduzido automaticamente para fazer os pequenos acertos que considerarem necessários para a melhor compreensão do seu conteúdo.

Agora, uma última modificação que me diz respeito diretamente. Uma das coisas que mais estava me angustiando ao final do Leopideas era a obsessão pelo volume de leitores que eu atingia. No início era prazeroso ter uma idéia do público-alvo alcançado, mas depois se tornou uma tortura ao perceber, primeiro, que por alguns dos fatores expostos acima, a qualidade do texto havia caído e eu não estava mais conseguindo atingir um grande número de entusiastas. O que decidi abolir então, tanto do blog quanto da minha mente: essa necessidade. Assim, escreverei para o blog buscando o prazer total na prática, e não um objetivo comercial o qual não tenho e não pretendo ter para o momento.

Feitas estas breves explanações, espero pelo menos tê-los aguçado a curiosidade em relação ao desenvolvimento desta nova empreitada. E espero igualmente atender a contento a descrição do blog colocada logo acima: encontrar algumas respostas para aquela simples pergunta – Palavras para que te quero? Aguardem as cenas – e as letras – dos próximos capítulos.