sábado, 9 de junho de 2018

O Homem que Buscava sua Sombra


O desafio imposto ao escritor sueco David Lagercrantz é sem dúvida de grande monta. Dar continuidade a obra à série Millenium, inaugurada pelo também sueco Stieg Larsson com grande sucesso é daquelas tarefas em que você aparentemente só tem a perder: se você mantém o sucesso sempre podem alegar que era só deixar máquina funcionando, se fracassa, os comentários era de que o original era melhor.

Obviamente quando se fala de literatura a equação não é tão fácil assim. A subjetividade na análise de uma obra se impõe sobre aquele que se propõe a tal tarefa, dado o gosto pessoal do leitor por um ou outro aspecto. Eu, por exemplo, gostaria muitíssimo que fosse investido na série um adensamento do relacionamento entre os dois protagonistas – a hacker Lisbeth Salander e o jornalista Mikael Blomkvist. Fato é que, dado que o autor original da série faleceu, nunca saberemos qual era a intenção deste quanto ao futuro destes personagens.

Lagercrantz, na volume 4 da série, quando fez sua estreia nesse desafio, denominada A Garota na Teia de Aranha – por nós já resenhado – pôs por terra qualquer expectativa nesse sentido. Assim sendo, considerando este ponto ultrapassado, naquilo que me pareceu ser uma queda de qualidade nessa primeira imersão na obra de Larsson, se recupera em determinada medida neste O Homem que Buscava sua Sombra – Ed. Companhia das Letras – São Paulo – 360 páginas – mostrando-se como um daqueles livros que tem uma dinâmica e uma narrativa frenética que nos prende até o final.

O livro e seu autor
Fonte: http://matinecinetv.com.br/

Em que pese achar que a intrincada trama se resolveu de maneira abrupta nos últimos 10% do livro, quando entramos no epílogo compreendemos que talvez este seja uma obra de passagem para o 6º volume. Existe uma estória que foi pincelada no volume anterior, mas que vem num crescendo, como se preparando para um gran finale. Se fôssemos utilizar a lógica adotada pelas produtoras do cinema ultimamente – investir em trilogias – teria sentido, pois o próximo fecharia o ciclo Lagercrantz com Salander e Blomkvist.

Sobre a estória específica de O Homem que Buscava sua Sombra ela se inicia com Lisbeth Salander na penitenciária e se virando para resolver algo que ela considera uma injustiça social. Mas nada é fácil, e claro que ela, para alcançar seu objetivo, desafia “o poder interno constituído”. Em paralelo ela instiga Blomkvist a continuar sua investigação sobre a origem de sua estória pessoal e familiar.

A ambientação na penitenciária no início do livro é um achado, pelo que propõe como instigante ao leitor a entender como Salander irá se virar sem acesso aos computadores. E aí de repente nos damos conta de que, em tempos de prevalência de sagas de super-heróis nos cinemas, ela é uma espécie de super-heroína. Por pior que pareça sua situação sabemos que esta McGyver feminina irá se safar, ora com suas habilidades de luta, ora pela sua inteligência. Desta forma, o ritmo frenético se assemelha a uma boa história em quadrinhos, atraindo ainda mais o mundo geek/nerd para esta personagem.

As outras obras de série
Fonte: http://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com/

Já Blomkvist segue envolvido com diversas mulheres. Talvez aí o(s) autor(es) se vale(m) de um artifício mercadológico no sentido de prender a atenção do público feminino por instigar o objeto de desejo de uma parcela importante dos seus consumidores. Assim sendo temos, portanto, uma obra que serve a diferente gostos, com um amplo leque de possibilidades. Nesse sentido, as editoras que investiram na continuidade da série Millenium nas mãos de Lagercrantz devem estar satisfeitas. Resta saber até quando a magia se manterá.