O
desafio imposto ao escritor sueco David Lagercrantz é sem dúvida de grande
monta. Dar continuidade a obra à série Millenium, inaugurada pelo também sueco
Stieg Larsson com grande sucesso é daquelas tarefas em que você aparentemente só
tem a perder: se você mantém o sucesso sempre podem alegar que era só deixar máquina
funcionando, se fracassa, os comentários era de que o original era melhor.
Obviamente
quando se fala de literatura a equação não é tão fácil assim. A subjetividade
na análise de uma obra se impõe sobre aquele que se propõe a tal tarefa, dado o
gosto pessoal do leitor por um ou outro aspecto. Eu, por exemplo, gostaria
muitíssimo que fosse investido na série um adensamento do relacionamento entre
os dois protagonistas – a hacker Lisbeth Salander e o jornalista Mikael
Blomkvist. Fato é que, dado que o autor original da série faleceu, nunca
saberemos qual era a intenção deste quanto ao futuro destes personagens.
Lagercrantz,
na volume 4 da série, quando fez sua estreia nesse desafio, denominada A Garota na Teia de Aranha – por nós já
resenhado – pôs por terra qualquer expectativa nesse sentido. Assim sendo,
considerando este ponto ultrapassado, naquilo que me pareceu ser uma queda de
qualidade nessa primeira imersão na obra de Larsson, se recupera em determinada
medida neste O Homem que Buscava sua
Sombra – Ed. Companhia das Letras – São Paulo – 360 páginas – mostrando-se como um daqueles
livros que tem uma dinâmica e uma narrativa frenética que nos prende até o final.
Em
que pese achar que a intrincada trama se resolveu de maneira abrupta nos
últimos 10% do livro, quando entramos no epílogo compreendemos que talvez este
seja uma obra de passagem para o 6º volume. Existe uma estória que foi
pincelada no volume anterior, mas que vem num crescendo, como se preparando
para um gran finale. Se fôssemos utilizar a lógica adotada pelas produtoras do
cinema ultimamente – investir em trilogias – teria sentido, pois o próximo
fecharia o ciclo Lagercrantz com Salander e Blomkvist.
Sobre
a estória específica de O Homem que
Buscava sua Sombra ela se inicia com Lisbeth Salander na penitenciária e se
virando para resolver algo que ela considera uma injustiça social. Mas nada é
fácil, e claro que ela, para alcançar seu objetivo, desafia “o poder interno
constituído”. Em paralelo ela instiga Blomkvist a continuar sua investigação sobre
a origem de sua estória pessoal e familiar.
A
ambientação na penitenciária no início do livro é um achado, pelo que propõe
como instigante ao leitor a entender como Salander irá se virar sem acesso aos
computadores. E aí de repente nos damos conta de que, em tempos de prevalência
de sagas de super-heróis nos cinemas, ela é uma espécie de super-heroína. Por
pior que pareça sua situação sabemos que esta McGyver feminina irá se safar,
ora com suas habilidades de luta, ora pela sua inteligência. Desta forma, o
ritmo frenético se assemelha a uma boa história em quadrinhos, atraindo ainda
mais o mundo geek/nerd para esta personagem.
As outras obras de série Fonte: http://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com/ |
Já Blomkvist segue envolvido com diversas mulheres. Talvez aí o(s) autor(es) se vale(m) de um artifício mercadológico no sentido de prender a atenção do público feminino por instigar o objeto de desejo de uma parcela importante dos seus consumidores. Assim sendo temos, portanto, uma obra que serve a diferente gostos, com um amplo leque de possibilidades. Nesse sentido, as editoras que investiram na continuidade da série Millenium nas mãos de Lagercrantz devem estar satisfeitas. Resta saber até quando a magia se manterá.