sábado, 7 de outubro de 2017

A Maleta da Sra. Sinclair

A mala continuava embaixo da cama esperando que os tesouros fossem retirados, esperando que a tampa fosse aberta e o conteúdo agarrado por mãos trêmulas de anseio. Se ela estendesse a mão, poderia tocar aquele sonho que não era mais um sonho. Dessa vez, era sólido, grande e inesgotável. (pág. 29)

A Segunda Guerra Mundial já rendeu uma série de romances e histórias. Momentos de crise são particularmente férteis para a produção de dramas que nos tocam, dado que são muito próximos de uma realidade que nos parece peculiarmente particular.

A obra de estreia de Louise Walters – A Maleta da Sra. Sinclair – Ed. Planeta – 2015 – 352 págs – se enquadra perfeitamente neste perfil. Tendo trabalhado por 6 anos numa livraria, provavelmente sua experiência particular lhe municiou de diversos artifícios para moldar uma das protagonistas da obra, a personagem Roberta Pietrykowski. Justamente ela também trabalha numa livraria – com o sugestivo nome de Old & New, dado que também revendia livros usados. Como ela – Roberta – tinha a mania de vasculhar os livros que eram deixados para revenda à procura de cartas e outras lembranças esquecidas, numa delas encontra algo diretamente vinculado a sua história familiar.

Mas Roberta vive no mundo de hoje, o mundo do imediatismo. Livros, palavras escritas numa folha de papel, dificilmente se prestam à ânsia por informação imediata. Ela passa então por um grande período de investigação e angústia até encontrar a verdade. Em paralelo a isso, revê sua própria trajetória, profissional e de relacionamentos mal resolvidos, dar uma reviravolta.

Porém o livro contém mais uma protagonista. A outra seria a Sra. Sinclair, que dá o nome a obra e que era a destinatária da carta encontrada por Roberta logo no início do romance. Dado que a carta remete à uma história passada durante a Segunda Guerra, nós, leitores, fazemos uma viagem para aquela época para entender o que a motivou e que tipo de vínculo ela possui com a Srta. Pietrykowski, tantos anos depois.

Isso nos leva a ponderar: o que os escritores são, afinal, que não pescadores de histórias que ou estão em suas memórias ou os rodeiam no dia a dia? Com certeza Walters se valeu da vivência que teve como livreira. Mas não foi somente isso. Teve todo um trabalho de pesquisa que avivou sua produtividade enquanto escritora. Viver num ambiente literário ajuda a acender e manter uma chama acesa por um dia “tentar ao menos, quem sabe...”. E tentar um futuro melhor foi a razão de ser de suas duas protagonistas.


Lousie Walters
Podemos dizer que o romance é lido rapidamente, pois nos toca e nos emociona. A autora, formada em literatura, teve o orgulho de vê-lo se espalhar rapidamente por 12 países. Quando o escritor tem a oportunidade e percebe que sua mensagem chega a tantos, e sendo esta mensagem a do amor e da solidariedade, enfrentadas as dificuldades da vida – e quantas dificuldades existiram durante a Segunda Guerra!? – acredito que não pode haver maior regozijo de sua parte. Que venham outros romances, Louise Walters, que venham outras cartas, histórias, livros, vida enfim que nos envolve. Afinal, sua estreia deixou um gosto de quero mais.