A mala continuava embaixo da cama esperando que os
tesouros fossem retirados, esperando que a tampa fosse aberta e o conteúdo
agarrado por mãos trêmulas de anseio. Se ela estendesse a mão, poderia tocar
aquele sonho que não era mais um sonho. Dessa vez, era sólido, grande e
inesgotável.
(pág.
29)
A
Segunda Guerra Mundial já rendeu uma série de romances e histórias. Momentos de
crise são particularmente férteis para a produção de dramas que nos tocam, dado
que são muito próximos de uma realidade que nos parece peculiarmente
particular.
A
obra de estreia de Louise Walters – A Maleta da Sra. Sinclair – Ed. Planeta –
2015 – 352 págs – se enquadra perfeitamente neste perfil. Tendo trabalhado por
6 anos numa livraria, provavelmente sua experiência particular lhe municiou de
diversos artifícios para moldar uma das protagonistas da obra, a personagem
Roberta Pietrykowski. Justamente ela também trabalha numa livraria – com o
sugestivo nome de Old & New, dado que também revendia livros usados. Como
ela – Roberta – tinha a mania de vasculhar os livros que eram deixados para
revenda à procura de cartas e outras lembranças esquecidas, numa delas encontra
algo diretamente vinculado a sua história familiar.
Mas
Roberta vive no mundo de hoje, o mundo do imediatismo. Livros, palavras
escritas numa folha de papel, dificilmente se prestam à ânsia por informação
imediata. Ela passa então por um grande período de investigação e angústia até
encontrar a verdade. Em paralelo a isso, revê sua própria trajetória,
profissional e de relacionamentos mal resolvidos, dar uma reviravolta.
Porém
o livro contém mais uma protagonista. A outra seria a Sra. Sinclair, que dá o
nome a obra e que era a destinatária da carta encontrada por Roberta logo no
início do romance. Dado que a carta remete à uma história passada durante a
Segunda Guerra, nós, leitores, fazemos uma viagem para aquela época para
entender o que a motivou e que tipo de vínculo ela possui com a Srta. Pietrykowski,
tantos anos depois.
Isso nos leva a ponderar: o que os escritores são, afinal, que não pescadores de histórias que ou estão em
suas memórias ou os rodeiam no dia a dia? Com certeza Walters se valeu da
vivência que teve como livreira. Mas não foi somente isso. Teve todo um
trabalho de pesquisa que avivou sua produtividade enquanto escritora. Viver num
ambiente literário ajuda a acender e manter uma chama acesa por um dia “tentar
ao menos, quem sabe...”. E tentar um futuro melhor foi a razão de ser de suas duas protagonistas.
Lousie Walters |
Podemos dizer que o romance é lido rapidamente, pois nos toca e nos emociona. A autora, formada em
literatura, teve o orgulho de vê-lo se espalhar rapidamente por 12 países.
Quando o escritor tem a oportunidade e percebe que sua mensagem chega a tantos,
e sendo esta mensagem a do amor e da solidariedade, enfrentadas as dificuldades
da vida – e quantas dificuldades existiram durante a Segunda Guerra!? –
acredito que não pode haver maior regozijo de sua parte. Que venham outros
romances, Louise Walters, que venham outras cartas, histórias, livros, vida
enfim que nos envolve. Afinal, sua estreia deixou um gosto de quero mais.