quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Último Trem de Hiroshima

A guerra é a situação extrema do ser humano. Nela, mais do que no nosso dia a dia, está latente a possibilidade de você morrer no segundo seguinte. O que esta noção provoca no ser humano? Que tipo de reação cada um de nós teria se vivesse tal situação? De que maneira podemos evitar chegar a tal ponto?

Charles Pellegrino, com o seu “O Último Trem de Hiroshima: os sobreviventes olham para trás” (Ed. Leya – São Paulo – 2010 – 432 págs) induz ao leitor tais reflexões. O autor, deste modo, responde a essas perguntas propondo-as no contexto de no que de pior a humanidade já fez a si própria – o lançamento das duas bombas atômicas ao final da Segunda Guerra Mundial sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Como se não bastassem os campos de concentração nazistas e todo o horror cometido no cotidiano de um enfrentamento bélico, optou-se pela “solução final” de modo a impor uma derrota ao adversário sem contestações.


Filosoficamente se poderia discutir se ceifar uma centena de milhar de vidas humanas não seria melhor do que dar continuidade a uma guerra de invasão – conforme previsto pelas Forças Armadas norte-americanas junto ao Japão naquele mesmo ano de 1945 – que poderia prolongar o conflito e trazer um número maior de baixas. Mas na verdade a pergunta crucial não é esta. A guerra em si carece de razoabilidade em existir. Mas o ser humano parece não entender este conceito cristalino, dado que em batalha estivemos desde o raiar da humanidade.

Pellegrino, desta forma, deixa com o seu trabalho o testemunho necessário desta irracionalidade que é a guerra, trazendo como argumentos a seu favor (ao nosso favor!!!) o impacto gerado com as imagens e histórias coletadas em quase 30 anos de pesquisa.
Charles Pellegrino
Autor dos livros que serviram a James Cameron como inspiração para Titanic e de pesquisas que impulsionaram o conceito em torno da série Jurassic Park, Pellegrino está em condições de levantar mais uma bandeira utilizando-se de sua influência perante os meios de comunicação de modo a que compreendamos de uma vez por todas que não existe outro caminho para a sobrevivência em paz no planeta Terra que não seja a cooperação entre todos, vizinhos, povos, cidades ou países. Para tanto ele navegou desde o pior que o ser humano pode representar, até chegar ao melhor que o homem pode fazer pelo seu próximo.

Orgulho, preconceito e cegueira – o pior do ser humano

Uma das primeiras imagens de como o homem pode ter sua ética e boa vontade deteriorada em favor do benefício próprio foi a identificação de que localidades próximas às duas cidades atingidas no início de agosto de 1945 impediam a migração dos sobreviventes para suas comunidades. “Na zona rural, durante o espaço de apenas algumas horas, os sobreviventes tinham sido convertidos em fugitivos, como as administrações locais faziam questão de deixar claro em anúncios feitos com megafones. Apelando para argumentações ou ocasionalmente apontando armas, as autoridades mandavam os andarilhos feridos de volta às piras e aos lugares onde a chuva negra caíra. Embora ainda não soubessem que tais venenos existiam, encaminhavam as pessoas à radiotividade” (pág. 60).

Essa é uma reação entre vizinhos, co-irmãos de uma mesma sociedade. Mas a humanidade infelizmente não se vê também como uma só. E quão mais distante se encontra do impacto gerado por suas ações, maior a probabilidade de atitudes selvagens para com o seu semelhante. “Uma solução que se ouvia com mais frequência era a de acabar com o Japão o mais rápido possível usando armas nucleares, e depois a Rússia, com a mesma força. A segunda bomba atômica ainda não tinha incendiado Nagasaki e diversos veteranos da primeira missão atômica já viam seus amigos lançarem o olhar para além do Japão, na direção da Rússia, e usar pela primeira vez a expressão ‘Nuke them’” (pág. 104) para expressar o desejo por um ataque atômico contra um inimigo.

O horror de tais medidas somente podem ser entendidas como a cegueira do ser humano em relação às consequências de seus próprios atos. A falta de compreensão do que ocorre no seu entorno, o orgulho ferido, acabam com a visão de que uma atitude deve ser tomada para evitar o pior. “Mesmo depois de o presidente norte-americano [Truman] revelar o segredo ao mundo, algumas horas mais tarde – O mundo verá que a primeira bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima, uma base militar -, o ministro da Guerra [japonês, Anami] se recusava a aceitar” (pág. 88). Ao contrário, todos correm a favor do estímulo ao estabelecimento do inferno na Terra como se a única solução fosse destruir o outro (ou ter a capacidade de). Ou de que outra forma se entenderia a Guerra Fria e a corrida armamentista? Afinal, “(...) quando os norte-americanos começaram [com o desenvolvimento da bomba atômica], ninguém sabia que o problema poderia realmente ser solucionado. ‘Agora’, Stalin disse a Beria [Chefe da KGB], ‘o mundo sabe que isso pode ser feito. É a parte mais difícil do problema. Muito, muito mais importante de saber como pode ser feito, é saber que pode ser feito’” (pág. 100). Aqui vale aquela velha máxima: o pior cego é aquele que não quer ver. Talvez a única maneira de se fazer com que os olhos sejam abertos seria presenciando o horror gerado.

Horror

Quando o doutor Nishina levou um punhado de caninos e molares enegrecidos para perto do seu medidor Geiger, os inconfundíveis cliques lhe reveleram exatamente o que acontecera.
“Restos humanos geralmente não emitem radiação”, o físico disse a Arisue.
“Então o que é?”, perguntou o general. “Esses cliques aí mostram tudo?”
Ministro da Guerra japonês
Korechika Anami
“É isso mesmo”, disse o doutor Nishina. “Só esses cliques e acabou. Temos que fazer o ministro da Guerra Anami entender: se os norte-americanos tiverem muitas dessas armas, pode acreditar em minha palavra, general – não há defesa contra esse tipo de poder” (pág. 99).

Já vimos acima que a simples constatação de que o horror atômico estava próximo não foi o suficiente para um retrocesso no conflito imediatamente após ao lançamento da primeira bomba. Mesmo com técnicos já tendo identificado o que tinha ocorrido, o alto escalão militar japonês ainda não acreditava (ou não queria acreditar) na gravidade da questão que estavam enfrentando. Porém, aos poucos relatos – e fatos concretos – trouxeram à tona o que alguns não queriam ver. “Depois do pika (o clarão) e do don (a explosão), a grama no lado do vale (...), à sombra da montanha, permaneceu verde e praticamente inalterada. (...) Mas em pouco tempo seu casulo passaria por uma estranha chuva de óleo amarelo, e o córrego não teria águas claras por muito tempo” (pág. 175).

O impacto em si sobre a natureza e a devastação local, com o desaparecimento da maior parte das estruturas da cidade, não era nada comparado com os efeitos da bomba sobre os seres humanos. “Matéria cerebral vaporizada e sangue tentavam escapar pelas órbitas do crânio de uma mulher, como se fossem jatos de fumaça preta, mas o aumento súbito de pressão foi tão grande que o crânio explodiu por dentro” (pág. 185). Ou ainda havia os chamados homens-formiga, que caminhavam desolados, sobreviventes sem a noção do que havia ocorrido, andando ao esmo, em linhas uns atrás dos outros. Ou as pessoas-jacaré, que acorriam aos pequenos córregos e rios, na busca por saciar a sede gerada com perda de material humano gerada pela bomba. “As pessoas-jacaré não gritavam. Suas bocas não podiam articular sons, mas o ruído era pior que gritos. Emitiam um constante murmúrio – como o de cigarras numa noite de verão. Um homem, cambaleando sobre os cotos queimados em que se transformaram suas pernas, carregava um bebê morto de cabeça para baixo” (pág. 199). Se tais cenas não gerassem arrependimento, não saberíamos jamais o que poderia fazê-lo.

Arrependimento

Arrepender-se. Primeiro ato de uma possível redenção. Mesmo que alguns cegos, como dito acima, somente enxergassem a busca pelo poder supremo, ou pela destruição imediata do inimigo, seres humanos haviam lançado aquelas bombas sobre outros seres humanos. E em alguns casos sem a exata noção do que estavam fazendo. “Russell Gakensbach, no assento do navegador do Necessary Evil, investigava o dano e pensava o mesmo que Tibbets [piloto do Enola Gay, avião que lançou a bomba sobre Hiroshima] – há menos deles [japoneses] agora -, mas o copiloto de Tibbets [capitão Robert Lewis] tinha um pensamento muito diferente: ‘Olhando para baixo, a milhares de pés sobre Hiroshima, tudo o que eu podia pensar era: ‘Meu Deus, o que fizemos?’, ele contaria, mais tarde” (págs. 86-87). A bordo do terceiro avião B-29 daquela missão fatídica de 06 de Agosto, o Great Artiste, o piloto Charles Sweeney, ao saber que provavelmente teriam que fazer aquilo de novo, “saiu da base sem dizer mais nada. Ele pegou um jipe emprestado e o guiou para longe da própria ala de bombardeio, a do 509º, em direção ao capitão Downey, do 313º. O capelão que havida dado a benção às três tripulações de Hiroshima (...) era luterano. Sweeney era católico. Ele precisava encontrar um padre” (pág. 94).

O mais impressionante é que, voltando mais um pouco no tempo, talvez nada disso – as bombas, digo - fosse necessário. Pellegrino aponta o fato de Hitler ter escapado com vida de um atentado em Julho de 1944. Aproveita inclusive este fato para explicar a teoria sobre o “casulo” gerado a partir de uma mínima proteção próxima ao epicentro de uma explosão – nesse caso específico uma grossa perna de mesa serviu de anteparo para detonação, e acabaria salvando a vida do dirigente alemão -, tese esta importante para compreender como alguns dos sobreviventes escaparam às bombas atômicas. “Não fosse pelo casulo antichoque de Hitler, von Stulpnagel [o conspirador responsável pelo atentado] teria pedido, de seu posto avançado na França, um armistício imediato às forças aliadas em 20 de Julho de 1944 ou numa data próxima. O plano de Stulpnagel-Rommel pretendia colocar Ludwig Beck e Carl Goerdeler no poder como presidente e chanceler – com a condição de que a Alemanha se rendesse até a última semana de julho de 1944, em vez de 7 de maio de 1945. Se tivesse acontecido assim, os aliados não teriam se distraído do front do Pacífico pela batalha do Bulge em dezembro de 1944; tampouco de Dresden em fevereiro de 1945, ou de Berlim devido ao avanço russo em abril de 1945. Em vez disso, Okinawa não caíra com os fuzileiros navais e as Filipinas não foram liberadas até junho de 1945. Se um pedaço de madeira de carvalho não tivesse interferido em 20 de Julho de 1944, esses dois eventos-chave teriam ocorrido pelo menos seis meses antes – até janeiro de 1945, provavelmente em momento anterior a novembro de 1944” (pág. 374).

As forças armadas norte-americanas já vinham se preparando desde maio de 1945 para uma invasão ao Japão. Eram mais de 500 mil homens de prontidão para tal ato, com uma previsão de baixas caso fosse necessário em torno de 400 mil combatentes. “Todos esses eventos teriam ocorrido de seis a oito meses antes, não fosse pelo casulo antichoque de Hitler. A esquadra americana deveria ter invadido o território japonês em maio de 1945, possivelmente até março. Se isso tivesse acontecido, existiria uma probabilidade de mais de 50% de que a guerra terminasse até agosto. Se a invasão ocorresse em março, então o calendário de MacArthur encerraria a guerra quando a primeira bomba atômica foi testada na base de Trinity, em 16 de Julho de 1945. Hiroshima e Nagasaki nunca teriam acontecido” (pág. 375). E isso realmente importa – a linha tênue entre destino ou fatalidade? Como colocamos no início, qual é a verdadeira lição a ser aprendida?

O melhor do ser humano

As pequenas tragédias que vivemos no dia a dia, atualmente, nesse mundo de grande pressão por resultados imediatos, por ser bem sucedido, se transformam em gigantescas tempestades emocionais. As pessoas se tornam dependentes de questões supérfluas, à beira do colapso e da depressão. Mas estas somente ganham sua verdadeira dimensão quando confrontadas com as grandes e verdadeiras tragédias. Michie Maruta, uma garota do subúrbio de Urakami, principal local atingido pela bomba de Nagasaki, é o exemplo real de tal conceito. Observando os efeitos sobre a população atingida – vômitos dos próprios órgãos internos, pele se desfazendo, pilhas de cadáveres em chamas – ela mal podia acreditar que apenas uma semana antes tinha ficado horrorizada com um corte feito num dedo por uma folha de papel (pág. 252). A superficialidade da vida era assim, posta em cheque. Mas se uma experiência reversa mostrasse outro lado? Um padre católico, de nome Simcho, foi preso em 1942 por tropas do Eixo no Japão. Foi deportado para Auschwitz. Lá, se apresentou como culpado de roubo no lugar de outro detento. Tsutomu Yamaguchi, um dos chamados “duplo sobreviventes” e maior defensor da paz após às bombas atômicas, colocou da seguinte forma: “O padre Simcho tomou uma decisão notável (...). O homem acusado tinha uma família do lado de fora, em algum lugar além dos muros da prisão. Simcho não tinha família. Então ele confessou um roubo que não cometera para que uns filhos não fossem privados de um pai” (pág. 306).

Porém a mesma superficialidade acima apontada é muito mais perversa, por compor aquele grupo de sentimentos que levam à ambição desmedida, ao preconceito, ao orgulho exagerado dos pequenos feitos, que por sua vez levam ao embate entre as pessoas, que no mais alto grau, devidos aos interesses envolvidos, geram as guerras. Tais sentimentos são muito mais facilmente cooptáveis pelos seres humanos, infelizmente. Atitudes como a do padre Simcho, de altruísmo extremo, são extremamente raras. Mas como reverter esse ciclo vicioso? Como transformá-lo num círculo virtuoso? A resposta a partir da experiência das bombas atômicas possui dois nomes: Nyokodo e Omoiyari.

Para entendermos Nyokodo temos que entender o Dr. Paul (Takashi) Nagai e Masahiro Sasaki. Nagai era paciente de câncer terminal em seu próprio hospital na época do bombardeio de Nagasaki. Após receber uma dose quase letal de radiação, seu câncer entrou em remissão temporária, e, apesar de ainda gravemente afetado, viveu tempo suficiente para se tornar um dos observadores mais poéticos e espirituais dos efeitos da bomba na mente e alma humanas. Nagai se tornou um dos principais conselheiros espirituais em Urakami e na Nagasaki pós-apocalipse (pág. 362).
Dr. Nagai e seus filhos em Nyokodo
Logo no primeiro outono depois da bomba, ele desceu o morro, adentrou a zona proibida, se converteu em rato de laboratório e deixou seu cabelo crescer à Einstein. Ele batizou sua cabana de Nyokodo – o eremitério “Como a ti mesmo” (pág. 299). Próximo à morte, após ter passado inúmeras lições de vida para os que o visitavam, Nagai, católico, resumia o seu princípio de vida em “Ame ao próximo como a si mesmo” (pág. 331).

Já Masahiro Sasaki tinha 5 anos no dia da queda da bomba. Ao crescer, propagou a mensagem da sua irmã – Sadako Sasaki, que aos 12 anos ainda vivia sob os efeitos colaterais da chuva negra, quando fez um pássaro de papel e escreveu nas asas: “Um dia você vai levar a paz voando ao redor do mundo” (pág. 363). Masahiro, estando nos Estados Unidos após o 11 de Setembro de 2001, colocou aos seus ouvintes um princípio similar que já estava ficando conhecido pela expressão “a corrente do bem” (1). O lema essencial passava por “assim como a ti mesmo” (ou Nyokodo) (...)
Masahiro Sasaki
Alguns sobreviventes do 11 de Setembro e suas famílias saíram do encontro com Masahiro com sua maneira de pensar transformada. Não muitos; porque as feridas ainda eram recentes para que a maioria fosse tocada por palavras. Apenas alguns foram tocados – só uns poucos, na verdade. Mas estes poucos já poderiam ser o suficiente (pág. 353).

E em relação a Omoiyari? Podemos dizer, grosso modo, que Nyokodo foi o meio, mas a verdadeira mensagem pode ser condensada em Omoiyari. Antes do falecimento de Sadako, Masahiro e a irmã estabeleceram um ditado que lhes dava força para continuar. E ele se resumia na palavra Omoiyari, que significava “Em seu coração, sempre pense na outra pessoa antes de você” (pág. 331).
Sadako Sasaki, em foto tirada por seu irmão, Masahiro
“Eu acho que Omoiyari é a melhor maneira de começar”, Masahiro Sasaki disse naquela ocasião, com os sobreviventes do 11 de Setembro. “A pior maneira de começar é nos chamarmos de vítimas. Para dizer ‘vítima’ é preciso haver vitimizador, e o vitimizador leva a culpa; e assim começa o ciclo de culpa. Por exemplo, se dissermos ‘vítima de Hiroshima’, a próxima frase que aparecer vai envolver Pearl Harbor e a cadeia de culpa fica presa em acontecimentos do passado” (...). Aos adultos na plateia, Masahiro explicou: “O que estou tentando dizer é que não importa quem lançou a bomba. Não é uma questão relevante. Nunca deveria ser, em nenhum país. É uma questão para toda a humanidade. A coisa importante é que eu e Sadako conhecíamos o sentimento de Omoiyari – e se esse princípio for ser seguido e passado adiante por apenas alguns de vocês presentes aqui nesta sala, hoje, com o tempo os perigos deste mundo poderão diminuir. Vocês precisam superar a tristeza e sair dela passando adiante esta simples filosofia para a nova geração” (págs. 352-354).

ADICIONAIS

(1)   O filme “A Corrente do Bem” (2000) é o símbolo do movimento citado. Nele, um professor interpretado por Kevin Spacey instiga seus alunos da sétima série a propor um meio de transformar o mundo para melhor. Haley Joel Osmont, ator-mirim que ficou conhecido pela produção “O 6º Sentido”, faz o papel de Trevor Mckinsey. Ele propõe, então, que cada pessoa faça o bem para outras 3 pessoas, independentemente de qualquer desejo ou contrapartida. Essa pirâmide filosófica poderia alterar o mundo;
(2)   O livro possui um prefácio no qual o autor dá uma breve explicação sobre uma querela judicial no qual se envolveu, evitando desqualificar-se quanto a interlocutor para o tema. Certamente esta foi uma preocupação muito auto-centrada. O que eu quero dizer? Desconhecia tal fato e, para mim, era irrelevante para o livro em si. Mas como esta era uma reedição, entende-se a preocupação do autor;
(3)   Num livro cheio de nomes parecidos, extremamente importante foi a colocação de um capítulo, ao final, somente para identificar separadamente cada uma das pessoas ali citadas (págs. 355-365). Além disso, o índice remissivo também foi essencial para a redação, por exemplo, deste post;
(4)   O início do livro é dedicado às explicações técnico-médicas sobre as reações imediatas dos sobreviventes e como se deu a cadeia da explosão da bomba atômica de Hiroshima – replicado em menor medida quando da descrição da explosão de Nagasaki. Entendemos este trecho como relevante para a completa compreensão do leitor no tempo e no espaço do horror sofrido pelas vítimas. Mas devo confessar que foi cansativo. O livro ganha em dinâmica quando passam a ser retratados e inseridos no contexto a dinâmica da ação, e os sentimentos ali inscritos, das tripulações responsáveis pelo bombardeio;
(5)   Para os viciados em super-heróis e quadrinhos interessante mencionar que Stan Lee, mago da Marvel, então jornalista e conhecido como Stanley Lieber, tinha sido destacado como escriba militar. A mitologia atômica o envolveu de tal maneira que gerou sua imaginação abstrata para transformações radioativas, auxiliando a trazer à vida os heróis da supracitada editora. Basta dizer que naquela foi divulgada a possibilidade de picadas de aranhas gerarem algum desdobramento (Homem-Aranha); o impacto dos raios-gama sobre o homem (Hulk); as mutações gerando seres disformes e a doença atômica chamada de Doença X (X-men), entre outras coisas. Além disso, não exatamente vinculado à Stan Lee, mas parece pouco provável que ele não tenha tomado conhecimento posteriormente, a Hell’s Kitchen tão propagada em torno do personagem Demolidor, foi o local de guarda do urânio utilizado para as duas bombas atômicas. Ora, o dito personagem ganhou suas habilidades ao ser atropelado por um caminhão contendo produtos químicos... em Hell’s Kitchen! Para mais detalhes ver páginas 347 e 379; e

James Cameron
(6)   James Cameron teve contato com Tsutomu Yamaguchi, um dos duplos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, no final de sua vida, com 93 anos, no ano de 2009 – ele veio a falecer em 2010, ano de edição do livro.
Tsutomu Yamaguchi
Em Nagasaki, após depositar flores e ter tido contato com o japonês que se tornou um dos maiores defensores da paz no mundo, ele afirmou: “Yamaguchi-san disse algo muito interessante quando tomou nossas mãos – ele afirmou: ‘Meu dever foi cumprido’. (...) Passou a missão adiante. Agora cabe a nós fazer algo a respeito, e cabe a todas as pessoas de boa consciência fazer algo sobre isso” (pág. 383). Na capa do livro há outra afirmação dele: “Há anos desejo fazer um filme sobre os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki e este é um importante relato de um dos eventos mais marcantes do século XX”. Se Cameron cumprir com este desejo, estou certo que será um dos filmes mais marcantes da história da humanidade. O roteiro está pronto. Falta apenas rodar.

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