sábado, 3 de março de 2018

O MAR INFINITO


Séries distópicas infanto-juvenis viraram uma moda no século XXI. Filmes e livros retratam, em sequência, um futuro pessimista para a humanidade. Catástrofes naturais, invasões de alienígenas, destruição pelas nossas próprias mãos via guerras empreendidas, etc. A saga iniciada com a obra “A 5ª Onda”, de autoria de Rick Yancey não é diferente.

O livro por mim lido – e agora resenhado, “O Mar Infinito”, é o segundo na sequência de estórias sobre como alienígenas dominam a Terra buscando a eliminação da humanidade por intermédio de ataques sequenciados – as “ondas” – efetuados de diversos modos. Tal lógica remete, de leve, à Bíblia e o relato das 7 pragas do Egito. Tais alienígenas se fazem presentes tendo, aparentemente, sido incorporados por humanos desavisados, que “emprestaram” seus corpos para os invasores.

Este, porém, é apenas o pano de fundo para mais uma vez revelar heróis precoces – adolescentes e até crianças (lembraram de “Divergente”?) – que de algum modo conseguem escapar de seus captores e buscam ser a redenção da espécie humana. Tendo como aliado de primeira mão o suposto alienígena Evan Walker, dotado de qualidades sobre-humanas, uma trupe de sete jovens – Ben (Zumbi), Especialista, Teacup (7 anos) – no primeiro filme da saga o personagem é retratado como uma adolescente (interpretada pela atriz Talitha Bateman), Cassie, Pão de Ló, Dumbo (12 anos) e o pequeno Sam (5 anos) – estão isolados logo no início desse segundo capítulo da saga num hotel abandonado.

Cassie está apaixonada por Evan Walker, que no final de “O Mar Infinito” causou um incidente que propiciou a oportunidade da fuga dos demais. E o grupo está reunido, liderado por Ben – eventual concorrente de Walker pelo coração de Cassie - apenas no aguardo do surgimento do alienígena-aliado, que havia prometido se juntar a eles. Porém, como já estão há muito tempo nessa espera, decidem enviar a adolescente Claire (Especialista) para verificar se existe um espaço mais seguro para se esconderem junto a cavernas em montanhas próximas. Walker, por sua vez, tem seus próprios problemas para se juntar ao grupo, que são deslindados durante a obra.

A questão colocada pelo autor está vinculada aos dilemas básicos que os adolescentes e pré-adolescentes enfrentam – confiança, amor precoce, enfrentamento aos conceitos estabelecidos – com a perspectiva de terem que identificar uma solução para superarem seres com tecnologia superior, e que estão em vantagem numérica e tática – afinal, os alienígenas conseguiram se travestir de humanos, cooptar alguns (ah, os humanos e suas pequenas ganâncias) e incutir a dúvida na cabeça de todos tanto quanto a quem são seus aliados e quais são seus próximos passos.

Rick Yancey - www.rickyancey.com
Assisti a primeira trama – “A 5ª Onda” – nos cinemas. E a sensação que saí da sala foi de quero mais. Ter um ator da qualidade de Liev Schreiber no papel do principal alienígena do mal (Coronel Vosch) ajuda. A segunda obra instigou ainda mais essa curiosidade, acrescentando elementos interessantes principalmente no terço final do livro de 248 páginas editado pela Fundamento e publicado no Brasil em 2015. O primeiro terço é dedicado a apresentar as distintas visões de cada um dos principais personagens sobre a sequência inicial. Assim temos diferentes narradores, o que cansa a princípio. Gosto mais deste tipo de artifício em romances policiais e/ou de suspense, que dão sustentação a uma narrativa. Em ficção científica distópica busca-se mais ação do que discurso. Em que pese o blábláblá político de “Jogos Vorazes” também ter funcionado.

O livro ganha em dinamismo quando se concentra em Walker e na Especialista. Esta última se revela, então, diferentemente do que poderia ter sido entendido pela obra cinematográfica do primeiro capítulo, personagem central da trama. Para Cassie Sullivan são reservados novos momentos de protagonismo no terceiro capítulo, denominado “A Última Estrela” – e devidamente já adquirido para leitura dentro em breve.

Em resumo: para um curioso como eu, amante de livros e ficção científica, vale a pena. Obra para um público específico, portanto. Porém, se alguém for iniciar diretamente por este segundo capítulo, poderá não ser fisgado de imediato e deverá ter um pouco de paciência – além de, talvez, para acelerar o processo de imersão, ter que recorrer ao filme ou livro inicial para melhor se contextualizar.

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