Depois de um longo tempo, afetados certamente pelo volume de trabalho e pelas séries nos diversos canais de streaming, que acabam consumindo mais do meu tempo anteriormente dedicado às leituras, finalizo minha jornada no Volume II da trilogia Escravidão, de Laurentino Gomes. Publicado pela Globo Livros em 2021, contendo 512 páginas, essa segunda obra navega pela corrida do ouro em Minas Gerais, indo até a chegada de Dom João ao Brasil, em 1808.
A escrita de Laurentino é leve, e isso vem de longa data, desde suas obras anteriores às quais também foram objeto de resenha por aqui. O problema, portanto, com o acompanhamento e acesso ao que é exposto nesse 2º volume não se trata de ritmo. A questão é que os temas abordados parecem ser repetitivos, não trazendo grandes novidades entre os capítulos, voltando sempre a atenção do leitor à questão essencial do fenômeno da escravidão, que é o fato de ser horrível que a Humanidade tenha essa mancha em seu traço, algo insolúvel.Talvez eu esteja sendo
ranzinza, mas de fato esperava mais do que somente isso. Em que pese trazer em
seu bojo uma grande quantidade de dados, resultado de uma pesquisa profunda e
extensa sobre o tema, Laurentino não se arrisca em voos mais altos, em tentar detalhar
histórias específicas que prendessem a atenção e fizessem com que o seu livro
não ficasse como um mero apêndice, como algo do tipo “com o tempo livre, volto
a ler”.
A luta entre os
escritores e a tentação do universo multimídia, ainda mais quando se trata de um
livro de não-ficção, se torna deveras ingrata para aqueles primeiros. Pois à
parte a riqueza de informações, aqueles têm que buscar um fio condutor que
prenda a atenção e o fôlego do leitor como se tivessem descrevendo uma boa estória
de suspense ficcional. Laurentino não oferece esse aspecto. Ele apresentou mais
detalhes, em seu avançar, mas não identificou um gancho que nos prenderia,
fazendo com que não quiséssemos largar o livro. Apesar da prosa leve, ela acaba
se tornando arrastada. Interessante observar como o próprio autor qualificou essa
parte desta obra:
“(...)
este livro reúne na forma de ensaios e reportagens as observações que fiz
nessas viagens e também meu aprendizado pessoal depois de percorrer uma vasta
bibliografia sobre o assunto nos últimos 7 anos. Ao todo, li cerca duzentos
livros de autores brasileiros e estrangeiros, antigos e contemporâneos, cujas
informações e análises procurei consolidar em texto jornalístico, de fácil
compreensão, traduzindo desse modo a experiência acumulada ao longo de mais de
42 anos de exercício da profissão como repórter e editor de jornais e revistas.
Fugi, sempre que possível, da tentação de uma narrativa linear cronológica.
(...)” [pág. 27]
Um exemplo do que estamos
propondo é que justamente um dos capítulos que é uma exceção a essa constatação
é aquele que identifica os traços reais da trajetória da “personagem” histórica
Chica da Silva. Descrita em inúmeras obras, ficcionais e não-ficcionais, sua
presença nos hipnotiza. E ter um capítulo totalmente dedicado à ela foi um acerto
do autor. É esse tipo de coisa que esperamos. E não um mero apanhado de estatísticas,
envolto numa boa escrita, mas que acabam cansando. Resta-nos verificar se o
terceiro volume ganha uma nova dinâmica. Assim espero.