Observamos
no último mês uma crescente ocupação de espaço na mídia pela epidemia do vírus
Zika. Tendo alcançado escala global e estando o Brasil envolto à preparação para
a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, a imprensa internacional
voltou seus olhos para o país, alardeando o risco que os estrangeiros estariam
vivendo.

Minha
argumentação no debate anterior foi de que enfrentamos todos os anos o combate
ao mosquito por conta da Dengue, endêmica em nosso país. Em nenhum momento
vimos uma altercação, uma indignação por parte da imprensa mundial em torno de
nossa situação. E quer saber? Isso pouco importa. O que devemos fazer é lutar
contra as doenças e as condições que as permitem graçar em nosso país por nós
mesmos, pela nossa população. Obviamente que os turistas serão beneficiados por
tabela, mas não é este o foco principal. O alarmismo de agora vem de outros
objetivos ocultos.

Agora,
lhes pergunto: entenderam a correlação? Sabemos que vivemos em plena guerra
civil velada por aqui. Nos acostumamos a conviver com a cultura da bala
perdida. Porém, nosso status quo não
afeta em nada a comunidade internacional. Os outros países não estão
preocupados com a nossa luta do dia a dia. Esse é um problema nosso. A pergunta
que eu faço é: dependemos deles para vencê-la? Ou devemos nós mesmos tomar a
dianteira e superar os obstáculos que nos auto-impomos? Nossa luta já gerou
alguns sucessos de crítica – Cidade de Deus, Tropa de Elite, etc. Mas somente
isso basta para mudar nossa realidade? Não, mas a denúncia é pelo menos um
começo.
Na
Síria, um país destruído a partir de suas entranhas, Klester pôde identificar e
se solidarizar com habitantes que, mesmo tendo suas vidas destroçadas, ainda
possuíam coragem e amor no coração para acolher um brasileiro dentre os
prisioneiros. Seu livro é dedicado a Ammar Ali, Adnan al-Saad e Walid Ali,
sírios que dividiram a cela com ele, além de outros 20 pelo menos, e que
tornaram sua breve passagem por lá algo no limite do suportável. É o começo a
que ele, como jornalista e autor, se propõe. Sua pequena contribuição para
tentar alterar a situação lá existente.
Agora
imaginem vocês se conseguirmos erradicar a Zika e no meio desse caminho organizar
uma das melhores Olimpíadas de todos os tempos, pelo menos no campo esportivo –
como foi a Copa do Mundo de 2014, algo salientado pela imprensa mundial. Já no
campo administrativo as denúncias sobre a cúpula do futebol mundial falam por
si só – a quem dedicaremos tal glória, fruto do esforço de muitos anônimos?
Acho que deveríamos dedicar aos brasileiros, cidadãos que sofrem a partir do
momento em que acordam até a hora em que se deitam, após um longo dia de
trabalho, driblando trânsito, mosquitos, diarreia, dor de cabeça e febre. E
mesmo assim ainda conseguem manter um sorriso no rosto e receber muito bem os
estrangeiros. Como Klester foi recebido por seus irmãos de cárcere...
(1)
Algo
que de fato ocorrerá, com a direção de Caco Ciocler. Para mais detalhes ver http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-111321/
.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente a correlação que encontrou entre as agruras enfrentadas pelo Klester com seus companheiros de cela e nós brasileiros. Temos que fazer por nós sim, antes de tudo. Caso busque os posts do Klester no facebook (sou amigo virtual dele, ele é pessoa bem acessível, verá como ele se indigna com a indiferença com que o sofrimento da população civil da Síria é tratada (ou não tratada) na mídia internacional. É assim mesmo: muitas negociações de cúpula, de "alto" nível (as aspas são especialmente propositais) mas os sofrimentos e dramas humanos pouco servem para acalentar corações frios, em meio a tenebrosas negociações. Nós temos que fazer acontecer, por nossas próprias forças. E não depositar esperanças vãs em outros que pouco nos dizem respeito.
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