“Os
mais importantes historiadores apresentam de um jeito original os episódios
decisivos e os personagens fascinantes que fizeram o nosso país”. Sempre prezei
muito promessas feitas e cumpridas. O organizador do livro “História do Brasil
para Ocupados”, Ed. Casa da Palavra – 2013 – 504 págs, Luciano Figueiredo,
cumpre exatamente com a promessa feita na frase acima apresentada no início
deste parágrafo. O que não quer dizer exatamente que eu seja somente elogios
para o livro.
Reunir 66 historiadores de renome
certamente não deve ter sido tarefa fácil. Somente por esse esforço a obra já
seria digna de elogio. Num grupo tão grande diversas são as matizes
apresentadas. Por mais isentos que queiram ser nos artigos apresentados, as
cores de suas ideologias por vezes derrapam e são mostradas. Em outras
ocasiões, a depender da personalidade do autor, elas são escancaradas. Mas
mesmo esse aspecto de fundo não impede que apreciemos o fato de que temos à mão
um compêndio dos principais momentos e temas que giram em torno da História de
nosso país desde seu “achamento” – em que pese se circunscrever majoritariamente até a ditadura
militar, não indo muito além, e mesmo assim em raras ocasiões.
Entre
os 66 autores é óbvio que o leitor irá se surpreender com descrições que nos
indicam como a História se repete:
Ao amanhecer, a
paisagem era de devastação, e foi assim descrita pelo Jornal do Commercio, na edição do dia 15: “(...) paralelepípedos
revolvidos, que serviam de projéteis para essas depredações, coalhavam a via
pública; em todos os pontos destroços de bondes quebrados e incendiados, portas
arrancadas, colchões, latas, montes de pedras, mostravam os vestígios das
barricadas feitas pela multidão agitada” – pág. 353 – “O Povo Contra a Vacina” –
José Murilo de Carvalho.
Qualquer
semelhança com as recentes manifestações não é mera coincidência, inclusive
porque o autor ressalta a multiplicidade de interesses aí envolvida nesta
revolta do início do século passado.
Outro
aspecto interessante é a identificação de alguns traços que permeiam a nossa
sociedade, nem todos belos. Por exemplo, encontrei a melhor definição e
explicação sobre como a corrupção se entranhou no Brasil, e da própria
corrupção em si enquanto fenômeno da humanidade, em mais um artigo de José
Murilo de Carvalho – somente por essa coincidência já posso depreender que
dentre todos foi o meu autor favorito:
Nosso cipoal de
leis incita à transgressão e elitiza a justiça. A tentativa de fechar qualquer
porta ao potencial transgressor, baseada no pressuposto de que todos são
desonestos, acaba tornando impossível a vida do cidadão honesto. A saída que
este tem é, naturalmente, buscar meios de fugir ao cerco. Cria-se um círculo
vicioso: excesso de lei leva à transgressão, que leva à mais lei, que leva a
mais trangressão. “Basta de Corrupção” – José Murilo de Carvalho – pág. 265
(artigo 263-268).
Luciano Figueiredo |
Aí
se encontra minha principal crítica. Acredito que para uma obra de consulta se
deve facilitar a vida de quem a busca. E num livro dedicado a temas históricos
não se deveria reinventar a roda: o melhor parâmetro ainda é o temporal. Ou
seja, diferentemente de Figueiredo, eu teria preferido seguir uma linha
cronológica que propiciasse uma referência de fácil administração para aqueles que
gostariam de se aprofundar sobre uma determinada época e um tema a ela
circunscrito. Gostaria ainda que a formação dos autores fosse expressa logo na
primeira página do artigo, como toda obra acadêmica, e não numa extensa lista
ao final. Estes aspectos de forma, de todo modo, não prejudicam demasiado a
obra para que esta deixe de ser referenciada como necessária na estante de todo
pesquisador. Guardadas as devidas provocações ideológicas existentes, é claro,
e se atendo aos fatos. Afinal, estamos falando de História – a Política
encontra-se aí mesclada, mas cabe a cada um fazer a interpretação que melhor
lhe apetece.
José Murilo de
Carvalho é doutor em Ciência Política pela Universidade de Stanford. Foi
professor visitante em várias universidades, entre as quais Stanford, Notre
Dame, Oxford e École des Hautes Études en Sciences Sociales e, desde 2004, é
professor visitante da Escola de Guerra Naval (EGN). É professor emérito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro da Academia Brasileira de
Letras e Academia Brasileira de Ciências (págs. 491-492).
Luciano
Figueiredo é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP).
Coordenou a área de pesquisa, divulgação e editoração do Arquivo Nacional,
fundou e dirigiu as revistas Nossa
História e Revista da História da
Biblioteca Nacional até 2011. Foi pesquisador na John Carter Brown Library
(Providence/RI) e no Boston College. Atualmente é professor associado na
Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador do CNPq e editor da revista Tempo (pág. 493).
Quando jovem, não me ligava. Hoje leio com prazer livros sobre a história do Brasil. E acho que há duas formas para este tipo de leitura: como fonte de consulta para conhecimento ou como simples prazer. A segunda forma é a mais indicada para principiantes e a dica são os livros do Laurentino Gomes, com uma abordagem quase jornalística, e de Eduardo Bueno, algo bem pop. Como consulta, José Murilo de Carvalho, que faz parte desta obra indicada pelo Leo, é autoridade no ramo (sugiro seu livro sobre Pedro II) . Assim, torço para que Historia do Brasil para Ocupados contemple estas duas vertentes. Vou conferir. Ocupado ou desocupado. Valeu a dica - via Facebook
ResponderExcluirOcupados estamos sempre...mas gostei da dica. Vou incluir na minha lista deste ano.- via Facebook
ResponderExcluirJá estou lendo o review... Feliz 2015! - via E-mail
ResponderExcluirtb preciso ler este livro. Via Facebook.
ResponderExcluirAfonso tem razão. O, livro do José Murilo sobre Pedro II é excelente. O José Murilo é um ilustre morador do prédio dos meus pais. Concordo com sua crítica: acho a divisão temporal bem mais didática e lógica.
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