Qual é o conceito, a
definição, de um best seller? Em
tempos de que a indústria da mídia é tão interconectada – em todos os sentidos
que esta palavra pode ter – um livro pode ser apenas a semente de uma geração
multimilionária de dividendos. Os beneficiados: o autor, os editores, eventuais
produtores de filmes baseados naquele livro, atores que dão vida a personagens
famosos, etc. Mas a pergunta central que fica é: o leitor, que benefício ele
extrai de todo esse movimento?
A relação entre a obra
e o autor, quando iniciada sem nenhuma pressão, tem como vínculo maior o nível
de exigência que o criador tem sobre a criatura. Se o autor é tremendamente autocrítico,
irá burilar a obra até que esta atinja um nível de excelência mínimo para o seu
gosto. Porém, a peculiaridade dessa relação se inverte a partir do momento em
que a obra se torna maior que o autor.
A exigência advinda dos
editores, dos produtores, dos leitores, da sociedade em geral, enfim, cresce à
medida da expectativa gerada em torno da obra. Quando um determinado autor
alcança um sucesso estratosférico, o entorno contribui para que este seja
pressionado além de sua própria consciência enquanto criador. Este passa a ter
que dar conta de uma ansiedade à quinta potência que está no ar em torno do que
ele apresentará como seu próximo produto.
Esta lógica se aplica
em dois estratos do mundo literário: àquele em que se localizam os autores
reconhecidos por sua qualidade pelos seus pares, normalmente circunscritos a um
nicho de mercado e atingindo, além dos especialistas, um grupo muito seleto de
leitores, formadores de opinião; e o outro, que consegue quase o caráter de
super-estrela, por gerar os valores ambicionados no mundo do entretenimento, já
que são absorvidos por uma grande massa de leitores. Temos aqui escritores que
têm normalmente suas obras transformadas em filmes, documentários, séries, etc.
Neste segundo grupo
encontramos “Inferno” (2013, 448 págs), obra de Dan Brown, editado aqui no
Brasil pela Arqueiro (SP). Trata-se de mais uma saga tendo o simbiologista
Robert Langdon como personagem central. O grande sucesso gerado pelo “O Código
da Vinci” – que proporcionou um filme estrelado por Tom Hanks – fez com que
Brown criasse sobre si todo aquele peso da expectativa apontado acima. Neste
momento é que ele é desafiado a responder a seguinte pergunta: se enclausurará
numa fórmula bem sucedida, para continuar rodando a máquina calculadora
bancária, não se atendo tanto aos detalhes, uma vez que a paixão dos fãs deixará
passar determinadas falhas? Ou buscará cada vez mais o requinte, absorto na
qualidade de sua obra, criando automaticamente uma devoção cada vez mais
crescente pelos seus admiradores?
O autor e sua obra
Infelizmente, no caso
de Brown, me parece que a primeira - e mais fácil - opção prevaleceu. Em “Inferno” somos jogados
em meio a mais uma corrida desenfreada de Langdon para desvendar mistérios atrás
de mistérios, todos eles codificados em mensagens enigmáticas em obras de arte –
ou principalmente naquela que serve como fio condutor, “A Divina Comédia”, de
Dante Alighieri. O segundo elemento que serve de gancho para a série de Brown é
o detalhismo na descrição de locais espalhados pelo mundo – nesse caso, Florença,
Veneza e Istambul.
Baseando-se, portanto
na fórmula bem sucedida de seus dois últimos livros com o mesmo personagem –
acrescente-se ainda “O Símbolo Perdido”, passado Washington – Dan Brown parece
ter se acomodado sobre o seu receituário. Os fãs do gênero certamente se
encontrarão plenamente satisfeitos pelo que foi apresentado, porém, para um
leitor mais atento, não passará despercebido que em pelo menos dois momentos do
livro – fora o fato da trama girar em torno de uma ameaça mais chegada para um
filme de James Bond – a existência de viradas de roteiro, no mínimo forçadas,
como se ele estivesse corrigindo uma rota da qual teria perdido o controle. Uma
delas girando entorno da Diretora Geral da Organização Mundial da Saúde, no
livro sendo a personagem Elizabeth Sinskey; e a outra naquela que seria a
co-estrela da trama, uma jovem médica chamada Sienna Brooks.
O que posso dizer,
afinal? Tendo em mente o objetivo a que se presta – assim como quando você
escolhe qual filme está a fim de assistir no fim de semana, um somente para
relaxar e rir, ou aquele que o faz pensar – “Inferno” pode ser o dito cujo para
alguns leitores mais exigentes. Mas, com certeza, agradará e prenderá aqueles
que anseiam pela correria de Langdon entremeada pela aula de cultura grátis que
Brown nos oferece em meio ao desenrolar de sua estória. Isto é, cada um tem o
Paraíso que merece – e busca. Eu espero sempre mais, mas acompanhado do melhor,
em termos de qualidade. E a qualidade, para o meu critério, caiu nessa última
obra de Dan Brown. Melhor sorte da próxima vez.
Papai gostou do desenrolar da história e de reconhecer os lugares que já esteve, mas não gostou do final (Susana S. from Facebook)
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