quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Guia Politicamente Incorreto da América Latina

O que um guia se propõe? Orientar seu usuário rumo ao caminho correto. Este caminho pode ser simplesmente o destino geográfico de uma determinada viagem. Mas também pode ser a formação de corações e mentes sobre um determinado tema.

A série de Guias Politicamente Incorretos, que versa sobre diversos temas, tem como mote central descontruir “guias” intelectuais introjectados pelos leitores com o passar do(s) tempo(s). Ou seja, seria uma quebra de paradigmas.

Este ato de “quebrar paradigmas” pressupõe que aqueles que o propõem possuem uma visão distinta do status quo. Ou seja, eles representam uma facção rebelde em relação ao pensamento vigente. Esta ação leva, obviamente, a uma contrarreação dos pensadores – ou do grupo que os representa – no sentido de não verem seu quinhão tão duramente conquistado com o passar dos anos abalado por teses diversionistas.

Toda essa balela acima, a meu ver, cai por terra se todos adotassem uma prática muito simples: o leitor voraz, assíduo, aquele que o que lhe cai à mão já vai dando uma olhada, desde bula de remédio até os diários de um ex-Presidente da República, tem que ter em seu coração a seguinte máxima – o escritor é um ser humano como outro qualquer, com ideias e desejos. Portanto, ele os expõe, mesmo que subliminarmente, em quaisquer textos que venha a propor ao leitor. Cabe ao leitor, portanto, ciente de tal fato, dar o devido desconto e ter um juízo crítico sobre tudo que lhe chega.

A obra a qual vamos analisar – Guia Politicamente Incorreto da América Latina – Leandro Narloch e Duda Teixeira – Editora Leya – 2011 – 336 páginas – cai justamente neste conjunto – desconstrutivistas, mas há que se observar, como eles próprios indicam logo no início – ver citação abaixo - que têm uma visão particular sobre o tema. A desconstrução feita pelos dois autores dos mitos latino-americanos é sólida. Ambos jornalistas, ambos com passagem pela Revista Veja*, ambos com trabalhos de pesquisa jornalística sobre o tema em questão (Narloch como editor da revista Aventuras na História e Teixeira com um amplo trabalho investigativo na região), ambos seres humanos.

O que eu quero dizer com isto? Os que militam por suas teses, e que sempre almejaram a desconstrução dos mitos por eles evocados – Che Guevara, Povos Andinos da Antiguidade (Astecas, Incas, Maias), Simón Bolívar, a história do Haiti e seus senhores negros, Perón e Evita, Pancho Villa e Salvador Allende – se regozijarão com a qualidade e a quantidade do material levantado. Bibliografia vasta e argumentos contundentes contrários à imagem cultivada em torno de cada uma dessas figuras. O recado é claro e bem dado. Quem não for partidário de tais teses, que pelo menos leia o livro para ter acesso aos argumentos contrários para o qual irá se bater. Com a palavra os autores. Depois lhes darei pequenas pílulas que eles apresentaram em sua obra:


Não nos sentimos representados por guerrilheiros ou por indignados líderes andinos e suas roupas coloridas. Não há aqui destaque para veias abertas do continente, mas para feridas devidamente  tratadas e curadas com a ajuda de grandes potências. Conhecemos bem as tragédias que nossos antepassados índios e negros sofreram, mas, honestamente, estamos cansados de falar sobre elas. E acreditamos que todos os povos passaram por desgraças semelhantes, inclusive aqueles que muitos de nós adoramos acusar. Por isso, quando vítimas da história aparecerem nesta obra, é para revelarmos que elas também mataram e escravizaram – e como elas se beneficiaram com ideias e costumes vindos de fora. (...) Não importam as tragédias que Salvador Allende, Che Guevara e Juan Perón tenham tornado possíveis. Importantes são o carisma, o rosto fotogênico, a morte trágica, os discursos inflamados contra estrangeiros. Por isso, não há como escapar: é ele, o falso herói latino-americano, o principal alvo deste livro.
Páginas 19-20.

Pílulas

Che defendeu a prisão de roqueiros e trabalhadores preguiçosos.

Ninguém matou tantos por nada quanto os astecas.

Pancho Villa foi um latifundiário cruel.

Allende perseguiu a imprensa chilena e aliou-se a terroristas cubanos.

Narloch em debate em Recife, por ocasião
da FLIPorto (2011)
com o escritor e biógrafo, dito de esquerda,
Fernando Morais.
Fonte: Diário de Pernambuco**
Milhares de índios festejaram a vitória dos espanhóis sobre os incas.

Simon Bolívar queira evitar que pobres e negros assumissem o governo.

Os revolucionários negros do Haiti se tornaram reis. Escravistas.

Perón admirava os nazistas – e meninas de 13 anos.

Para fechar, gostaria de ressaltar um trecho colocado ainda no capítulo inicial sobre Che Guevara. Trata-se do discurso do economista austríaco Ludwig von Mises, numa de suas conferências no fim de 1958, em Buenos Aires, de como algo que deveria ser seguido no tratamento das ideias, quaisquer que sejam elas, contrário ao que foi aparentemente proposto pelo revolucionário argentino, e que para mim é o maior e mais belo recado do livro:

Ludwig von Mises
Liberdade significa realmente liberdade de errar. Podemos ser extremamente críticos com relação ao modo como nossos concidadãos gastam seu dinheiro e vivem sua vida. Podemos considerar o que fazem absolutamente insensato e mau. Numa sociedade livre, todos têm, no entanto, as mais diversas maneiras de manifestar suas opiniões sobre como seus concidadãos deveriam mudar seu modo de vida: eles podem escrever livros; escrever artigos; fazer conferências. Podem até fazer pregações nas esquinas, se quiserem – e faz-se isso, em muitos países. Mas ninguém deve tentar policiar os outros no intuito de impedi-los de fazer determinadas coisas simplesmente porque não se quer que as pessoas tenham a liberdade de fazê-las.
Pág. 72.


* Nas palavras de Claudio de Moura Castro, colunista da supracitada revista, ao comentar sobre os leitores que o abordam contrário às ideias que expõe: “Não querem se conspurcar em uma revista de direita?” – Veja, 18 de Novembro de 2015 – edição 2452, ano 48 – nº 46 – pág. 18.

** Para mais detalhes sobre este debate ver http://www.old.diariodepernambuco.com.br/nota.asp?materia=20111114133503 . Uma pequena amostra: "Narloch chegou a ser vaiado pela plateia ao citar uma frase atribuída a Nelson Rodrigues ("socialistas com mais de 40 anos de idade não têm cérebro"). Morais também foi repreendido pelo público ao acender um charuto em ambiente fechado. Ao se defender, lembrou que a Fliporto é patrocinada pela Sousa Cruz. Os dois entraram em confronto de ideias o tempo inteiro. Enquanto Leandro afirmava qua o capitalismo é a melhor coisa para os pobres, Fernando mencionava as favelas que acabara de ver embaixo das pontes do Recife e questionava: "Pergunte aos moradores daquelas casas se o capitalismo é bom para eles."

2 comentários:

  1. Eu, definitivamente, não sou politicamente correta. Tenho que manter atenção constante sobre a audiência presente para não causar um tumulto por nada. Dou a todos a liberdade de falar a besteira que quiserem, mas a recíproca não é verdadeira. Ser livre e democrata é, definitivamente, muito difícil.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que nunca afirmaram q a Democracia era fácil. Na verdade, acredito q todos nós temos um pequeno ditador dentro de nós, esperando q nossas vontades sejam respeitadas e atendidas.

      Excluir