Ao
receber de presente o livro “O Quarto Poder – uma outra história”, de autoria
do jornalista Paulo Henrique Amorim, editado pela Hedra em 2015, com 556
páginas, imaginei ser uma análise isenta sobre a influência da imprensa – o tal
“Quarto Poder” – no cotidiano do cidadão comum. Uma análise macro deste
fenômeno muito me interessaria. Porém, não é isso que é apresentado pelo autor,
que ficou conhecido do grande público como analista econômico em sua passagem pela
Rede Globo.
O jornalismo de economia é a favor do mais forte –
sempre. (...) O jornalismo de economia é tão ralo quanto o jornalismo
brasileiro. E tão falso quanto a elite de que pretende fazer parte. Em tempo: o
autor destas mal traçadas ganhou a vida, por muito tempo, como jornalista de
economia.
Pág. 383
E
a Globo acima citada acaba por se mostrar como sendo o objeto da catarse
apresentada na obra em questão. Paulo Henrique Amorim durante 95% do livro se
utiliza de anotações pessoais para validar sua versão da história
político-econômica brasileira mais recente – a partir, pelo menos, do último
governo Getúlio Vargas – como sendo algo construído ao bel prazer daquela
corporação jornalística que ficou conhecida como Vênus Platinada.
Alforriado, critico patrões e empregos. E se trato
mais da Globo e de Roberto Marinho, é porque eles fizeram por merecer. Pág. 472.
Ora,
todos sabemos da grande influência que a mídia detém sobre os rumos da
História, em qualquer país. Ela constrói mitos, destrói heróis, cria cenários
para o surgimento de salvadores, prenuncia a terra arrasada de seus detratores.
Tanto mais se dá quando existe uma hegemonia de uma única companhia em
determinada região, Estado ou país. Dessa forma, caso o livro tivesse já em seu
título um indicativo ao que se prestava, eu não compraria, pois isso é um fato
mais do que sabido. Aí está o primeiro pecado do autor – vender gato por lebre.
Sempre
digo a todos que questionam os textos jornalísticos dos principais meios de
comunicação – quer seja em sua versão escrita ou falada – de que vento que
venta lá, venta cá. Nós, cidadãos comuns, estamos sujeitos à construção de
nossa opinião sobre os fatos narrados. Porém, como se narram os fatos é
distinto do ocorrido em si. Dessa forma, cabe a nós saber separar o joio do
trigo, tanto de um lado quanto do outro. Pregar que apenas um dos combatentes
dissimula seu discurso em prol do benefício próprio é como afirmar que existe
uma divisão clara entre anjos e demônios.
Todas
as empresas de comunicação têm, a princípio, uma linha editorial a respeitar –
caso eu esteja falando uma bobagem jornalística, que meus amigos da área me
corrijam. Assim sendo, o texto (ou a fala, oriunda do texto) está sujeita a uma
orientação ou filtro superior que direcionará o raciocínio de quem a apresenta
e, em tese, com o objetivo de cooptar corações e mentes de quem lê ou assiste.
Temos, portanto, enquanto leitores, ouvintes ou telespectadores, que proceder
com a seguinte escolha: queremos ser cidadãos esclarecidos, mas que entendem
por ser esclarecidos ter a dura tarefa de identificar desvios de discurso para
identificar o fato em si, buscando a isenção a todo custo; ou queremos adotar a
crença numa linha ideológica e abraçar suas manifestações e discursos, não
importando a qualidade da fonte, uma vez que já fizemos nossa opção ex-ante?
No
mundo do politicamente correto todos acorreriam para a primeira opção – queremos
ser cidadãos isentos, ora pois. Mas observem que alternativas políticas fazem
parte do cotidiano de todos. E, em princípio, o ser humano sempre buscará
aquele discurso que mais lhe aprouver. Quase ninguém se dá ao trabalho de ler “o
outro lado”, pois soa muito mais suave aos ouvidos as palavras que corroboram
nosso pensamento constituído.
Nesse
caminhar nos vemos envoltos, então, num novo nível do dilema “o ovo ou a
galinha”. O que veio primeiro, a apropriação do cidadão pelo discurso
constituído pelos meios de comunicação; ou a adesão aos meios de comunicação
por um cidadão com um ideário pré-constituído?
Entendo
que devemos, à luz das experiências históricas, identificar aquilo que
entendemos seja o melhor para a nossa sociedade. E quando falo em experiências
históricas não me remeto somente aos últimos 60, 70 anos, mas toda a trajetória
da humanidade. Pergunto a vocês: a corrupção, praga renitente que insiste em
molestar o mundo como um todo, existe desde quando? As sociedades de uma
maneira geral buscaram se defender de tal prática adotando uma série de
estratagemas, porém esta continua a existir e encontrar outras maneiras de se
plasmar com aqueles que deveriam zelar por nós, infelizmente.
A
corrupção, movida pelo capital, é aderente a toda forma de poder, quaisquer
bandeiras que este poder empunhe. Cabe a nós, cidadãos, leitores, ouvintes,
espectadores, estarmos atentos para identificá-la e denunciá-la. A existência de
meios de comunicação aderentes ao poder vigente também é uma prática comum,
quaisquer que sejam as matizes ideológicas representadas no trono da
governança. Ter a consciência disso é o primeiro passo para separar o fato da
versão do fato.
Conta-se que, depois da derrota para Collor, em 1989,
Lula participou de um debate em Paris com Roberto Marinho e Jaime Lerner. Um
estudante na plateia interpelou o dr. Roberto.
- O senhor não tem vergonha de usar uma concessão de
um serviço público para manipular um debate e fazer uma cobertura
vergonhosamente a favor de um candidato e contra outro?
O estudante foi freneticamente aplaudido. O dr.
Roberto respondeu.
- Meu filho, eu não tenho nada contra esse rapaz aqui
ao meu lado, o Lula. Mas, todo dia o partido dele passava na porta da TV Globo
com o caixão em que ia me enterrar. Um outro candidato, o Brizola, dizia que ia
tomar o meu lugar. E tinha um outro candidato, filho de um velho amigo meu e
que me tratava muito bem na campanha. Quem o senhor acha que eu devia apoiar? O que ia me
enterrar? O que ia tomar o meu lugar? Ou o filho do meu amigo?
Lula considerou a explicação razoável.
Pág. 304
E
não será um livro que se imagina como sendo o bastião da verdade, apoiado somente
em anotações pessoais, sem nenhuma prova contundente que não apenas o
testemunho ocular, escrito de maneira desconexa, memórias que vão e vem, num
texto sem lógica que não apenas destilar o que parece ser o ódio por um
determinado sistema – do qual se alimentou – mas também para propagandear seu
próprio trabalho atual que irá fazer com que alguém mude de opinião. É preciso
muito mais do que isso para gerar um movimento de altercação, de repúdio a tudo
que está por aí. A pergunta que fica é: Paulo Henrique Amorim, a que senhor
você serve?
A Globo quer é fechar o Google no Brasil. Só isso! Pág. 406
Lhes
digo: o quarto poder, na verdade, não é a imprensa. Somos nós. Nós é que temos
a capacidade de mudar uma sociedade que esteja viciada. Mas devemos começar
desde o mais pequeno dos atos – não jogar lixo na rua, por exemplo – até
alcançarmos o maior deles – saber escolher nossos representantes. Paulo
Henrique, infelizmente você me fez perder um precioso tempo. Melhor sorte da
próxima vez.
Léo, você é admirável até quando lê um livro até o fim mesmo não gostando do que foi escrito. A impressão que tenho do autor é que ele é desconectado da realidade dos fatos. Mas prefiro não "pagar para ver".
ResponderExcluirConcordo com você: o quarto poder somos nós e as nossas escolhas.
Paulo Henrique Amorim faz parte daquela trupe de jornalistas que foi mandado embora da Globo e que ficou om dor-de-cotovelo e raivinha. Se não me engano, foi processado pelo Heraldo Pereira por dirigir uma injúria a ele. Parabéns por ter ido até o final pois não sei se conseguiria.
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