sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O QUARTO PODER - Uma outra História

Ao receber de presente o livro “O Quarto Poder – uma outra história”, de autoria do jornalista Paulo Henrique Amorim, editado pela Hedra em 2015, com 556 páginas, imaginei ser uma análise isenta sobre a influência da imprensa – o tal “Quarto Poder” – no cotidiano do cidadão comum. Uma análise macro deste fenômeno muito me interessaria. Porém, não é isso que é apresentado pelo autor, que ficou conhecido do grande público como analista econômico em sua passagem pela Rede Globo.


O jornalismo de economia é a favor do mais forte – sempre. (...) O jornalismo de economia é tão ralo quanto o jornalismo brasileiro. E tão falso quanto a elite de que pretende fazer parte. Em tempo: o autor destas mal traçadas ganhou a vida, por muito tempo, como jornalista de economia.
Pág. 383

E a Globo acima citada acaba por se mostrar como sendo o objeto da catarse apresentada na obra em questão. Paulo Henrique Amorim durante 95% do livro se utiliza de anotações pessoais para validar sua versão da história político-econômica brasileira mais recente – a partir, pelo menos, do último governo Getúlio Vargas – como sendo algo construído ao bel prazer daquela corporação jornalística que ficou conhecida como Vênus Platinada.

Alforriado, critico patrões e empregos. E se trato mais da Globo e de Roberto Marinho, é porque eles fizeram por merecer. Pág. 472.

Ora, todos sabemos da grande influência que a mídia detém sobre os rumos da História, em qualquer país. Ela constrói mitos, destrói heróis, cria cenários para o surgimento de salvadores, prenuncia a terra arrasada de seus detratores. Tanto mais se dá quando existe uma hegemonia de uma única companhia em determinada região, Estado ou país. Dessa forma, caso o livro tivesse já em seu título um indicativo ao que se prestava, eu não compraria, pois isso é um fato mais do que sabido. Aí está o primeiro pecado do autor – vender gato por lebre.

Sempre digo a todos que questionam os textos jornalísticos dos principais meios de comunicação – quer seja em sua versão escrita ou falada – de que vento que venta lá, venta cá. Nós, cidadãos comuns, estamos sujeitos à construção de nossa opinião sobre os fatos narrados. Porém, como se narram os fatos é distinto do ocorrido em si. Dessa forma, cabe a nós saber separar o joio do trigo, tanto de um lado quanto do outro. Pregar que apenas um dos combatentes dissimula seu discurso em prol do benefício próprio é como afirmar que existe uma divisão clara entre anjos e demônios.

Todas as empresas de comunicação têm, a princípio, uma linha editorial a respeitar – caso eu esteja falando uma bobagem jornalística, que meus amigos da área me corrijam. Assim sendo, o texto (ou a fala, oriunda do texto) está sujeita a uma orientação ou filtro superior que direcionará o raciocínio de quem a apresenta e, em tese, com o objetivo de cooptar corações e mentes de quem lê ou assiste. Temos, portanto, enquanto leitores, ouvintes ou telespectadores, que proceder com a seguinte escolha: queremos ser cidadãos esclarecidos, mas que entendem por ser esclarecidos ter a dura tarefa de identificar desvios de discurso para identificar o fato em si, buscando a isenção a todo custo; ou queremos adotar a crença numa linha ideológica e abraçar suas manifestações e discursos, não importando a qualidade da fonte, uma vez que já fizemos nossa opção ex-ante?

No mundo do politicamente correto todos acorreriam para a primeira opção – queremos ser cidadãos isentos, ora pois. Mas observem que alternativas políticas fazem parte do cotidiano de todos. E, em princípio, o ser humano sempre buscará aquele discurso que mais lhe aprouver. Quase ninguém se dá ao trabalho de ler “o outro lado”, pois soa muito mais suave aos ouvidos as palavras que corroboram nosso pensamento constituído.

Nesse caminhar nos vemos envoltos, então, num novo nível do dilema “o ovo ou a galinha”. O que veio primeiro, a apropriação do cidadão pelo discurso constituído pelos meios de comunicação; ou a adesão aos meios de comunicação por um cidadão com um ideário pré-constituído?

Entendo que devemos, à luz das experiências históricas, identificar aquilo que entendemos seja o melhor para a nossa sociedade. E quando falo em experiências históricas não me remeto somente aos últimos 60, 70 anos, mas toda a trajetória da humanidade. Pergunto a vocês: a corrupção, praga renitente que insiste em molestar o mundo como um todo, existe desde quando? As sociedades de uma maneira geral buscaram se defender de tal prática adotando uma série de estratagemas, porém esta continua a existir e encontrar outras maneiras de se plasmar com aqueles que deveriam zelar por nós, infelizmente.

A corrupção, movida pelo capital, é aderente a toda forma de poder, quaisquer bandeiras que este poder empunhe. Cabe a nós, cidadãos, leitores, ouvintes, espectadores, estarmos atentos para identificá-la e denunciá-la. A existência de meios de comunicação aderentes ao poder vigente também é uma prática comum, quaisquer que sejam as matizes ideológicas representadas no trono da governança. Ter a consciência disso é o primeiro passo para separar o fato da versão do fato.

Conta-se que, depois da derrota para Collor, em 1989, Lula participou de um debate em Paris com Roberto Marinho e Jaime Lerner. Um estudante na plateia interpelou o dr. Roberto.

- O senhor não tem vergonha de usar uma concessão de um serviço público para manipular um debate e fazer uma cobertura vergonhosamente a favor de um candidato e contra outro?

O estudante foi freneticamente aplaudido. O dr. Roberto respondeu.

- Meu filho, eu não tenho nada contra esse rapaz aqui ao meu lado, o Lula. Mas, todo dia o partido dele passava na porta da TV Globo com o caixão em que ia me enterrar. Um outro candidato, o Brizola, dizia que ia tomar o meu lugar. E tinha um outro candidato, filho de um velho amigo meu e que me tratava muito bem na campanha. Quem o senhor acha que eu devia apoiar? O que ia me enterrar? O que ia tomar o meu lugar? Ou o filho do meu amigo?

Lula considerou a explicação razoável.
Pág. 304

E não será um livro que se imagina como sendo o bastião da verdade, apoiado somente em anotações pessoais, sem nenhuma prova contundente que não apenas o testemunho ocular, escrito de maneira desconexa, memórias que vão e vem, num texto sem lógica que não apenas destilar o que parece ser o ódio por um determinado sistema – do qual se alimentou – mas também para propagandear seu próprio trabalho atual que irá fazer com que alguém mude de opinião. É preciso muito mais do que isso para gerar um movimento de altercação, de repúdio a tudo que está por aí. A pergunta que fica é: Paulo Henrique Amorim, a que senhor você serve?

A Globo quer é fechar o Google no Brasil. Só isso! Pág. 406


Lhes digo: o quarto poder, na verdade, não é a imprensa. Somos nós. Nós é que temos a capacidade de mudar uma sociedade que esteja viciada. Mas devemos começar desde o mais pequeno dos atos – não jogar lixo na rua, por exemplo – até alcançarmos o maior deles – saber escolher nossos representantes. Paulo Henrique, infelizmente você me fez perder um precioso tempo. Melhor sorte da próxima vez.

2 comentários:

  1. Léo, você é admirável até quando lê um livro até o fim mesmo não gostando do que foi escrito. A impressão que tenho do autor é que ele é desconectado da realidade dos fatos. Mas prefiro não "pagar para ver".
    Concordo com você: o quarto poder somos nós e as nossas escolhas.

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  2. Paulo Henrique Amorim faz parte daquela trupe de jornalistas que foi mandado embora da Globo e que ficou om dor-de-cotovelo e raivinha. Se não me engano, foi processado pelo Heraldo Pereira por dirigir uma injúria a ele. Parabéns por ter ido até o final pois não sei se conseguiria.

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