sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Em Algum Lugar do Paraíso


“O Veríssimo é um machista!”. Foi com essa afirmação peremptória que fui recebido pela minha esposa ao relatar alguns dos textos hilários escritos por Luis Fernando Veríssimo no livro “Em Algum Lugar do Paraíso” – Ed. Objetiva – 2011 – 198 págs.. Confesso que num primeiro momento minha reação foi de pensar que ela não estava tendo a sensibilidade necessária para a leitura dos textos daquele o qual reputo um dos maiores escritores de crônicas do cotidiano de nosso tempo.


 Posteriormente, ao observar com mais atenção os textos seguintes lidos no mesmo livro – ainda estava em meio à leitura da obra, mas não me contive em ler para ela aquelas palavras de tão bom humor, inteligentes, às quais estava tendo acesso – percebi sim um viés pelo estereótipo de nossa sociedade, ela sim, machista ao extremo. Ora, sendo o Veríssimo um cronista, um crítico, da sociedade em que vivemos, é óbvio que ele use como matéria prima os aspectos mais relevantes que esta possui – o machismo sendo uma delas.

A capacidade de rirmos de nós mesmos nos faz uma espécie singular. Nossas mazelas a todo o momento se fazem presentes e temos que ter a capacidade de encontrar nestas, aquele aspecto que faz com que as diminuamos ao seu real tamanho, estratégia elementar para que possamos superá-las. Veríssimo, com sua verve inspirada, nos auxilia nesta caminhada. “Veríssimo nos faz pensar sobre as escolhas, as decisões precipitadas, as que nunca foram tomadas – sempre com um olhar amoroso, bem-humorado, cúmplice de limitações demasiado humanas”. É assim que o autor é apresentado na orelha de sua própria obra.


 Entre as 41 crônicas apresentadas nesta coletânea algumas realmente abordam a visão machista indicada aqui no início. Aquela que dá título ao livro e que o abre, por exemplo, fala sobre a nova perspectiva de Adão a respeito da vida com o surgimento de Eva.

“Adão, sozinho no Paraíso, era um homem feliz porque era um homem sem datas. Mas quando Deus colocou Eva ao lado de Adão, a primeira coisa que ela perguntou, ainda úmida da criação, só para puxar assunto, foi: ‘Que dia é hoje?’, e ele sentiu que sua paz terminara” (pág. 7).

Porém, as mulheres têm também sua oportunidade de vingança, quando, por exemplo, somos comparados com George Clooney – “O Verdadeiro George Clooney” (págs. 63-65): “Longe de mim querer difamar alguém, mas acho que no caso do George Clooney o que está em jogo é a autoestima da nossa espécie” (pág. 63).

Muitos outros temas são abordados, e não somente a relação homem X mulher. Decisões equivocadas, a passagem do tempo, a curiosidade humana, religião, filosofia, teatro, etc... Em cada uma delas é destacada uma característica absurda, tal qual um caricaturista que identifica os principais traços do retratado, e o realça em nome de nós termos a exata noção do non-sense que muitas vezes nossos atos assumem.

Em resumo: Veríssimo é a dose certa para aqueles que são livres, livres para rirem de si próprios e da vida. E rir é o melhor remédio, já diz a cultura popular. Ou nas palavras de Veríssimo, em “Liberdade” (págs.181-185), crônica em que na verdade ele compila uma série de frases sobre o tema: “Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, completamente livre, é a que não tem medo do ridículo” (pág. 185).

Um comentário:

  1. Eu acho o cronista urbano, social muito bom, o político é um equivoco - comentário via celular, postado no FB.

    ResponderExcluir