“O
Veríssimo é um machista!”. Foi com essa afirmação peremptória que fui recebido
pela minha esposa ao relatar alguns dos textos hilários escritos por Luis
Fernando Veríssimo no livro “Em Algum Lugar do Paraíso” – Ed. Objetiva – 2011 –
198 págs.. Confesso que num primeiro momento minha reação foi de pensar que ela
não estava tendo a sensibilidade necessária para a leitura dos textos daquele o
qual reputo um dos maiores escritores de crônicas do cotidiano de nosso tempo.
Posteriormente,
ao observar com mais atenção os textos seguintes lidos no mesmo livro – ainda
estava em meio à leitura da obra, mas não me contive em ler para ela aquelas
palavras de tão bom humor, inteligentes, às quais estava tendo acesso – percebi
sim um viés pelo estereótipo de nossa sociedade, ela sim, machista ao extremo.
Ora, sendo o Veríssimo um cronista, um crítico, da sociedade em que vivemos, é
óbvio que ele use como matéria prima os aspectos mais relevantes que esta
possui – o machismo sendo uma delas.
A
capacidade de rirmos de nós mesmos nos faz uma espécie singular. Nossas mazelas
a todo o momento se fazem presentes e temos que ter a capacidade de encontrar
nestas, aquele aspecto que faz com que as diminuamos ao seu real tamanho,
estratégia elementar para que possamos superá-las. Veríssimo, com sua verve
inspirada, nos auxilia nesta caminhada. “Veríssimo nos faz pensar sobre as
escolhas, as decisões precipitadas, as que nunca foram tomadas – sempre com um
olhar amoroso, bem-humorado, cúmplice de limitações demasiado humanas”. É assim
que o autor é apresentado na orelha de sua própria obra.
Entre
as 41 crônicas apresentadas nesta coletânea algumas realmente abordam a visão
machista indicada aqui no início. Aquela que dá título ao livro e que o abre,
por exemplo, fala sobre a nova perspectiva de Adão a respeito da vida com o
surgimento de Eva.
“Adão, sozinho no Paraíso, era um homem feliz porque
era um homem sem datas. Mas quando Deus colocou Eva ao lado de Adão, a primeira
coisa que ela perguntou, ainda úmida da criação, só para puxar assunto, foi:
‘Que dia é hoje?’, e ele sentiu que sua paz terminara” (pág. 7).
Porém,
as mulheres têm também sua oportunidade de vingança, quando, por exemplo, somos
comparados com George Clooney – “O Verdadeiro George Clooney” (págs. 63-65):
“Longe de mim querer difamar alguém, mas acho que no caso do George Clooney o
que está em jogo é a autoestima da nossa espécie” (pág. 63).
Muitos
outros temas são abordados, e não somente a relação homem X mulher. Decisões
equivocadas, a passagem do tempo, a curiosidade humana, religião, filosofia,
teatro, etc... Em cada uma delas é destacada uma característica absurda, tal
qual um caricaturista que identifica os principais traços do retratado, e o
realça em nome de nós termos a exata noção do non-sense que muitas vezes nossos
atos assumem.
Em
resumo: Veríssimo é a dose certa para aqueles que são livres, livres para rirem
de si próprios e da vida. E rir é o melhor remédio, já diz a cultura popular.
Ou nas palavras de Veríssimo, em “Liberdade” (págs.181-185), crônica em que na
verdade ele compila uma série de frases sobre o tema: “Mas eu desconfio que a
única pessoa livre, realmente livre, completamente livre, é a que não tem medo
do ridículo” (pág. 185).
Eu acho o cronista urbano, social muito bom, o político é um equivoco - comentário via celular, postado no FB.
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